Ninguém fica indiferente a Anitta. “Ela usa a negritude quando lhe convém”, diz a ativista Stephanie Ribeiro sobre as tranças da cantora no clipe “Vai Malandra”, lançado no fim do ano passado. “Que imagem da favela ela está circulando por vários países?”, questiona a professora de literatura brasileira Giovanna Dealtry, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. “Quem prega empoderamento não pode empregar abusador”, provoca a escritora Clara Averbuck, a respeito da participação do fotógrafo Terry Richardson no vídeo. “Anitta é genial. Aceitem que somos corpo, mente e molejo!”, defende a atriz Suzana Pires. “Ela fez o exterior olhar para a favela carioca”, resume Ana Lima, guia turística do morro do Vidigal, onde as imagens foram gravadas. “Finalmente vi ‘Vai Malandra’ – e gostei. Mais de Anitta do que da música”, assume o jornalista Ruy Castro, um dos maiores intelectuais do Brasil.
E Anitta, afinal, o que acha disso tudo?
“Fico feliz que tenha feito as pessoas pararem para pensar”, diz, com uma voz quase infantil de tão doce. O tom muda quando o tema vira apropriação cultural. “Essa é boa. Cresci na favela usando shortinho e tomando banho de sol na laje. Só não tinha ainda a fita isolante.” E continua: “A família do meu pai é negra e mineira, a da minha mãe é paraibana e sou carioca, filha dessa mistura. Temos que nos unir e não dar ouvidos a opiniões que só nos separam”. Embora, por contrato, não possa dar declarações sobre Terry, o diretor do clipe (ele foi acusado de assédio sexual por modelos durante o ano de 2017), diz que, como mulher, faz questão de reafirmar que repudia qualquer tipo de assédio e violência de gênero. “Espero que todos os casos dessa natureza sejam sempre investigados com a relevância e seriedade que merecem.” Quanto à celulite, empoderada, dá de ombros: “Não sou perfeitinha e queria que as mulheres se identificassem com isso. A cena é minha forma de trabalhar a autoestima feminina”.
(Revista Marie Claire/Globo)