Uma família da cidade de Sorriso vive um drama há quase três meses. É que a filha mais nova do casal Antônio Garcia Júnior (32) e Graciela Giovana Canton Garcia (31), de apenas dois meses, nasceu com vários problemas de saúde em decorrência de uma anomalia genética conhecida na medicina como Trissomia do Cromossomo 9. Sem estruturas para atendimento em Sorriso, o casal não pensou duas vezes em arrumar as malas para iniciar o tratamento da pequena Isabela em Cuiabá. A existência da anomalia genética trouxe ao bebê uma série de problemas de saúde localizados no coração, rins, cérebro, na formação óssea além do lábio leporino.
Segundo o pai do bebê, no quinto mês de gestação a gravidade do caso foi diagnosticada e a equipe médica na época até propôs aos pais a interrupção da gravidez, que de imediato foi rejeitada. "Os médicos especialistas em desenvolvimento fetal disseram que a probabilidade da nossa filha sobreviver após o nascimento era de apenas 0,1%. Nunca pensamos em interromper a vida dela e hoje ela já está com mais de dois meses lutando para viver", aponta Antônio que trabalha com vendas de transporte de cargas na região norte do Estado.
A corrida contra o tempo para a sobrevivência de Isabela começou na Justiça. Em Cuiabá, os pais da criança recorreram à Defensoria Pública para que urgentemente uma cirurgia para conter o avanço da hidrocefalia (acúmulo de água no cérebro) fosse realizada.
Diante da falta de estrutura pós-cirúrgica no Pronto Socorro de Cuiabá, que não dispõe de uma Unidade de Terapia Intensiva Infantil (UTI), no plantão da última sexta-feira (20), os Defensores Públicos Altamiro Araújo de Oliveira e Estevam Vaz Curvo Filho ingressaram na Justiça com uma liminar com Obrigação de Fazer contra o Estado de Mato Grosso não apenas para a realização da cirurgia neurológica, mas também, que outro procedimento cirúrgico, no coração da pequena Isabela fosse de pronto coberto financeiramente pelo Estado. Ao longo da ação, Vaz Curvo ainda ressaltou que "quem salva uma vida salva a humanidade".
Nas mãos do juiz de Direito Gonçalo Antunes de Barros Neto, a liminar foi deferida e a criança deu entrada em uma clínica particular já neste último sábado (21) para a realização de exames pré-cirúrgicos. Na tarde desta terça-feira (24), a cirurgia para a colocação da válvula que fará a drenagem do líquido cerebral acumulado foi um sucesso e a pequena Isabela se recupera para ainda esta semana passar por outra cirurgia, desta vez, no coração.
Sem a atuação da Defensoria Pública, os pais teriam que desembolsar o equivalente a R$ 70 mil pelos dois procedimentos cirúrgicos. "Quantas pessoas que estavam como nós e que perderam seus filhos por falta de conhecimento de que há Justiça para qualquer situação? Isso salvou nossa filha", comenta.
Apesar de saber que o estado de saúde da pequena Isabela é grave, o pai não desiste em acreditar na sobrevivência da filha. "Não sabemos ainda o que Deus está querendo nos ensinar com tudo isso. O que sabemos é que a amamos muito e queremos vê-la saudável e feliz", finaliza. Depois de recuperada das cirurgias em Cuiabá, a pequena Isabela deve seguir tratamento na cidade de Ribeirão Preto (interior de São Paulo).