Oito médicos do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) pediram demissão e a população de Cuiabá e Várzea Grande passa a contar com um único profissional, por plantão, para atender as duas cidades, que juntas somam cerca de 1 milhão de habitantes. A categoria não descarta a possibilidade de outros médicos deixarem o serviço.
A falta de estrutura, precariedade das ambulâncias, ausência de equipamentos e materiais para realizar os atendimentos são apontados como as principais causas para a saída em massa dos servidores. O Samu chegou a contar com 36 médicos e recentemente o quadro era formado por 21 profissionais trabalhando em regime de plantão de 12 horas. Com as demissões, o efetivo passa para 13.
Conforme um dos médicos, o atual número de funcionários resultará em escalas com um profissional por plantão para atender Cuiabá e Várzea Grande. Antes, 5 médicos compunham uma equipe de trabalho. Conta que no último fim de semana, por exemplo, havia apenas uma médica para realizar os atendimentos e regular as ambulâncias. Situação que sobrecarrega o médico e coloca em risco a população, que fica sem o atendimento adequado.
Há 7 anos trabalhando no Samu, um dos demissionários aponta que todas as reclamações dos servidores são de conhecimento dos gestores, porém nenhuma providência é tomada para garantir melhorias. “A resposta que nos deram essa semana é a suspensão dos atendimentos realizados pelo Alfa 2”, comenta, referindo-se a unidade que atua em Várzea Grande.
O médico afirma que deixa o serviço muito preocupado com o reflexo das demissões no atendimento à população e pondera que não tem como colocar a própria vida em risco, uma vez que andam em ambulâncias precárias, com pneus carecas e sem freios. “Corro o risco de sofrer um acidente e não ter médico para me atender”.
Comenta que alguns profissionais não deixam a unidade por precisarem do emprego, mas satisfeito com a situação não existe ninguém. “Ter o serviço no Estado e não funcionar por falta de ineficiência do poder público é uma situação inadmissível. Vai morrer gente por falta de atendimento do Samu, que está sem condições de efetuar o trabalho como deve ser realizado”.
A presidente do Sindicato dos Servidores Públicos da Saúde e do Meio Ambiente (Sisma-MT), Alzita Ormond, destaca que o Samu, assim como todas as unidades de saúde de Mato Grosso, sofre com o sucateamento. Destaca que as demissões ocorrem naturalmente porque nenhum profissional da saúde está disposto a trabalhar sem condições mínimas e equipamentos básicos para o atendimento. “Todos correm o risco de responderem processo por uma responsabilidade que é do Estado e não do médico”.
Outro lado
Por meio da assessoria de imprensa, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) diz que recebeu 4 pedidos oficiais de demissão e remanejou 5 médicos para o Samu. Diz não ser verídica a falta de estrutura e a descontinuidade do serviço e que não há reclamações da sociedade.