Trezentas bolsas de sangue estão armazenadas e não podem ser utilizadas pelos pacientes da rede pública de saúde do Estado, diante da falta de reagente para realização de imunopatologia, procedimento indispensável para a transfusão. Na tarde de ontem, o MT-Hemocentro contava com duas bolsas de sangue tipo O positivo disponíveis para atender a rede mato-grossense. A situação levou os funcionários a registrarem boletim de ocorrência denunciando o risco iminente de morte de pacientes que viessem a precisar de transfusão.
Conforme a servidora Alzira Saldanha, o MT-Hemocentro havia recebido solicitação de plaquetas e sangue, mas não pode atender a demanda. “A população está em risco. Se ocorrer um acidente grave, as unidades públicas não terão como atender e pode haver mortes por falta de sangue”.
Para Alzira, a situação mais grave ocorre no interior do Estado, onde não há bancos de sangue particulares. “O MT-Hemocentro é a retaguarda dessas cidades”. Ela aponta que o sucateamento da unidade ocorre desde 2010. Lembra que esta não é a primeira vez que a Secretaria de Estado de Saúde (SES) deixa de garantir materiais para que o trabalho seja realizado e a população atendida.
Em março deste ano foi denunciada a falta de vários produtos necessários dentro do MT-Hemocentro, que atua na análise de todo sangue recolhido nos 17 pontos existentes em Mato Grosso. Conforme o funcionário Otto Ten Caten, diferente da sorologia que foi terceirizada para a rede particular, a imunopatologia não é um serviço de interesse das empresas privadas, uma vez que não oferece lucro. “A imunopatologia é cara, dá trabalho e não tem retorno financeiro. Por isso, nenhum laboratório particular quer assumir”, complementa Alzira.
A falta do reagente era de conhecimento da SES desde a semana passada, quando os servidores do MT-Hemocentro alertaram que o suprimento era suficiente somente para realizar os exames até a quinta-feira (6). O descaso do governo com a saúde pública foi visto com indignação e os funcionários se reuniram para discutir quais medidas poderiam ser tomadas. Além da falta de materiais e dificuldade de trabalho imposta pela SES, discutiram sobre o chamamento público para transferir a gestão do MT-Hemocentro para uma Organização Social de Saúde (OSS).
Promotor de Justiça, Alexandre Guedes compareceu à reunião e orientou os funcionários que notifiquem e registrem oficialmente todos os casos graves e mortes que venham ocorrer diante da ineficiência do Estado. Pediu que a recomendação fosse repassada para toda a rede de saúde de Mato Grosso. “Vamos investigar cada caso relatado e responsabilizar criminalmente os responsáveis. Estou falando de levar os culpados para o Tribunal do Júri para responder por homicídio”.
Outro lado
A assessoria de imprensa da SES confirma a falta do reagente desde o dia 10, problema ocasionado por não conseguir realizar o pregão para aquisição do produto. Hoje a situação será resolvida.