O Hospital Estadual Santa Casa realizou ontem, a primeira cirurgia pediátrica de reparação da extrofia de bexiga pela “técnica de Kelly” em Mato Grosso. A cirurgia tem o objetivo de corrigir a má formação do aparelho gênito urinário – que engloba a bexiga, uretra e genitália – e promover mais qualidade de vida ao paciente.
O procedimento obteve êxito, durou cerca de 12 horas e envolveu mais de 30 profissionais no Centro Cirúrgico. A ação foi possível graças a uma parceria com o Grupo Cooperativo Brasileiro Multi-institucional, que conta com médicos especialistas voluntários de diversos estados do Brasil. “Esse é 35º caso que nós operamos no Brasil. Começamos o projeto em 2019 e já passamos por 12 estados do país. O Grupo Multi-institucional é fruto de um projeto voluntário voltado para crianças atendidas pelo Sistema Único de Saúde”, explicou o o médico especialista em cirurgia e urologia pediátrica, Nicanor Macedo.
De acordo com o médico, o procedimento possibilita a reconstrução completa do aparelho gênito urinário e preserva os tecidos e nervos. O secretário de Estado de Saúde, Gilberto Figueiredo, parabenizou a iniciativa do grupo voluntário e enfatizou que a realização da técnica cirúrgica é um marco para Mato Grosso. “É um dia histórico para o Hospital Estadual Santa Casa. Somente para essa complexa cirurgia, foi articulada uma equipe de cerca de 35 profissionais, nove médicos especialistas, sendo cinco médicos que vieram de outras unidades da federação. É a Saúde de Mato Grosso fazendo história.
A extrofia de bexiga é a doença mais complexa das especialidades de cirurgia e urologia pediátrica. Mesmo sendo um procedimento de difícil execução, a “técnica de Kelly” corrige a má-formação em uma etapa e tem apresentado os melhores resultados para os casos de reparação da extrofia. As outras técnicas prevêem mais etapas para a correção.
Com o objetivo de agregar conhecimento, a cirurgia também foi transmitida para profissionais da saúde de todo o país. “Essa é uma técnica muito complexa, mas nos parece ser a que tem melhores resultados. Mesmo que a extrofia de bexiga seja uma doença rara, existe uma demanda muito grande no Brasil porque tem pouca gente [profissional capacitado] para operar. Nós apresentamos todas as bases da técnica e é um conhecimento muito grande para todos que acompanham. Também é um ganho para nós, porque cada caso traz uma pequena particularidade”, avaliou Macedo.
Para a mãe Margareth Feitosa, de 42 anos e residente do município de Primavera do Leste, a cirurgia vai promover mais qualidade de vida ao filho caçula. “Para mim é muito gratificante esse evento. É um sonho realizado. O meu filho tem seis anos e já passou por sete cirurgias. Esperamos que, com esse procedimento, seja atingido o nosso objetivo”, disse, emocionada.
O paciente é acompanhado pelo dr. José Roberto Lima, médico especialista do Hospital Estadual Santa Casa. A partir desta cirurgia, a expectativa é de que a unidade estadual continue como um polo de referência no Centro-Oeste. “Fiquei impressionado com a estrutura do Hospital Estadual. O dr. José Roberto, que está conosco desde o início, nos convidou e essa unidade será mais um polo de referência entre 12 estados”, garantiu o dr. Nicanor, que atua no Hospital Estadual da Criança do Rio de Janeiro.
A diretora do Hospital Estadual Santa Casa, Patrícia Neves, avalia que esse tipo de ação colabora para a capacitação dos profissionais da unidade e agrega conhecimento às equipes multidisciplinares. “Nós somos um hospital de referência em pediatria e, para nós, é de suma importância inovar em procedimentos e tecnologias. Esses casos chegam ao Hospital Estadual e eles precisam de profissionais cada vez mais capacitados e voltados para a inovação”.