Sem médicos, pacientes que chegam no setor de emergência do Hospital Adauto Botelho têm que ir embora sem serem atendidos. Na escala do mês de dezembro, o atendimento ficou comprometido em 20 dias. Em alguns deles, não havia clínicos em nenhum dos horários. O dependente químico M., de 39 anos, procurou a unidade para se internar. Ele contou que é usuário de álcool e outras drogas há anos e não sabe mais o que fazer. Nesta terça-feira, decidiu ir até o hospital pedir ajuda, porém, não encontrou médico. “Me avisaram que só terá médico à noite. Acho que vou ficar aqui e esperar, porque se eu for embora não sei se terei coragem de voltar”.
Nem mesmo ordens judiciais são cumpridas. O servente de pedreiro André Batista Leão conta que teve uma determinação judicial para internar o filho, de 18 anos, que é de- pendente químico. Mas ainda não conseguiu encaminhá-lo porque não tem médico na unidade. “Eu liguei lá e me disseram que só à noite. Não posso esperar, é um caso de urgência, mas o que vou fazer?”.
Ele relatou que já internou o filho 3 vezes no hospital. Em todas elas, o jovem fugiu. “Ele foge e ninguém faz nada. Não sei como isso acontece, nós não sabemos mais o que fazer”. O mesmo ocorre com pacientes que sofrem de problemas mentais. A dona de casa Juliana Moreira, 40, conta que por diversas vezes teve dificuldades para conseguir atendimento para o pai de 60 anos, que faz tratamento para esquizofrenia. Muitas vezes, ele é levado ao hospital pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), já que a família não consegue contê-lo. “Da última vez, a médica passou um remédio e mandou para casa, mesmo ele estando em crise. É difícil para nós, pois só levamos ele lá quando não temos condições de cuidá-lo e precisamos de ajuda médica”.
A própria equipe do Samu, que fica no local, confirmou que muitas vezes chegam na unidade com pacientes em crise e, como não há médicos, precisam encaminhá-los para as Policlínicas ou ao Pronto-Socorro, onde nem sempre conseguem vagas. A estrutura é dividida em 3 alas, sendo uma para pacientes jovens do sexo masculino; outra, com 20 leitos, para homens mais velhos e, outro bloco, para as mulheres.
Outro lado
O diretor do hospital, João Santana Botelho, disse que o problema de falta de médicos já está sendo solucionado com a contratação de um clínico que vai atuar nos horários vagos. A ausência de um profissional nesta terça-feira, segundo ele, foi pontual. “Outros médicos estão retornando das férias e todos os horários já estão sendo preenchidos. Mesmo assim, se chegar algum paciente em crise e não tivermos médico aqui, encaminhamos para outra unidade, não deixamos ninguém sem atendimento”. Já a solução para a falta de vagas e melhoria no atendimento, defendida pelo Estado, é a mudança do Adauto Botelho para o antigo Neuro-Psiquiátrico, na saída de Cuiabá para Rondonópolis. A justificativa é que possibilitará o aumento de leitos e a abertura de uma ala especial para tratamento de dependentes químicos.