Pacientes chegam a esperar mais de 7 horas para conseguir atendimento nas policlínicas, postos de saúde e unidades do Programa Saúde da Família (PSF) devido ao atraso dos médicos, que não têm o ponto controlado. Nos locais, o controle de entrada e saída baseia-se em uma lista escrita, que recebe a assinatura do profissional. Alguns assinam em um dia as presenças do mês inteiro. Os funcionários denunciam que existem critérios diferentes de controle entre os técnicos, enfermeiros e médicos. Os outros servidores são cobrados e colocados em plantões extras quando as horas de trabalho são insuficientes.
O mecânico Weimar Rodrigues de Oliveira, 35, esperava o atendimento na policlínica do CPA 1. Ele conta chegou ao local às 6h30 e foi informado que o médico chegava apenas após às 9h. Na ocasião, outras pessoas já estavam esperando o profissional que, conforme funcionários da unidade, chega tarde e ainda vai tomar café antes de atender as pessoas. "Todos sabem que os médicos têm regalias", disse um funcionário da unidade. Oliveira conseguiu a consulta por volta das 12h30.
A dona de casa J.O., 25, estava com a sogra, que tem 75 anos e teve complicações após uma cirurgia ortopédica. A idosa chegou ao lugar gritando de dor às 7h e os servidores disseram para ela ficar na recepção até às 9h, quando o médico ia chegar. Os parentes ficaram revoltados e exigiram que a paciente fosse acomodada em uma maca. Quando a idosa foi atendida, por volta das 10h, o médico passou uma medicação na veia para dor e enjoos. A família perguntou o motivo da indicação do segundo medicamento, já que a mulher não estava com ânsia de vômito. A enfermeira informou que era para prevenir o sintoma.
Servidores da instituição informaram que uma das causas da demora do atendimento é a falta de médicos. Apenas 5, dos 14 de plantão são contratados para a policlínica, os demais são emprestados de outras unidades para minimizar o problema. A administração acaba concedendo regalia aos contratados para que não optem pela demissão. Na escala de serviço, é possível ver que existem muitos espaços brancos. Na terça-feira, por exemplo, não havia pediatra durante o dia e no final de semana faltavam clínicos. Na unidade do Programa Saúde de Família (PSF), que fica no Bela Vista, gestantes ficam a manhã inteira esperando atendimento. O horário marcado para o início das atividades é 7h, mas a maioria dos profissionais atende depois das 9h. Além do não cumprimento de horários, na maior parte do tempo existe apenas 1 médico e não 2 como previsto.
Gestante de 9 meses, Lucinha Barbosa Lopes, 31, ficou mais de 4 horas em pé esperando o atendimento do pré-natal. Ela relata que o obstáculo é chegar até ao médico. Dentro do consultório, o atendimento é muito bom, mas faltam remédios e estrutura para o trabalho dos técnicos.
Na porta da farmácia há uma placa informando que o medicamento capitopril, usado para o controle da pressão arterial, está em falta e voltará a ser disponibilizado no dia 22. O remédio é de uso contínuo e os moradores da região são obrigados a peregrinar em outras unidades de saúde ou comprar nas farmácias para não ter danos no tratamento.
Agendamento – Na Policlínica do Planalto, algumas especialidades são marcadas apenas 2 vezes na semana, como é o caso dos cardiologistas. Os horários são conforme a disponibilidade do médico e alguns chegam a atender um paciente a cada 4 minutos, já que diariamente são marcados aproximadamente 30 e ele fica entre às 16h e 18h na unidade. Os pacientes chegam a ficar 40 dias esperando para concluir um atendimento. A primeira dificuldade está em agendar a consulta, depois marcar os exames e buscar o resultado. Em seguida, marcar o retorno.
O músico Antônio Ferreira da Silva, 46, diz que está atrás de marcar o retorno da esposa, que queixava-se de dores no braço. Ela precisou de 30 dias para marcar a primeira consulta e depois mais 45 para fazer o raio-X e pegar o resultado. Agora, com o laudo em mãos, serão necessários mais 30 dias até o retorno. "Quem sabe ela melhora no caminho ou chega no retorno sem o braço".
Até mesmo os servidores da saúde têm dificuldades. Um deles, que prefere não se identificar, afirma que espera a autorização para fazer um ressonância magnética há 6 meses. Ele estava com dificuldades para andar e tomou, por conta própria, o remédio para aliviar as dores.
Pronto-Socorro – O PS de Cuiabá está recusando pacientes devido a ausência de médicos. A técnica de patologias, Aedir Jacinto dos Santos, 50, diz que levou a filha até a unidade porque ela sentia tontura e dores fortes na nuca. No local, foi informada que não havia médico disponível para fazer o atendimento e foi encaminhada para a Policlínica do Verdão. A unidade estava apenas com 1 clínico, enquanto a escala prevê 2, o que atrasou o atendimento. Aedir relata que começou a procurar médico às 6h e a filha foi atendida às 10h.
A cozinheira Angela Maria Mota da Silva, 25, aguardava a filha de 15 anos, que está grávida de 3 meses, no Verdão. Ela relata que primeiro foi ao Pronto-Socorro porque a adolescente sentia muitas dores no corpo e febre alta. No PS, foi informada da falta de médico e, depois de muito esforço, os parentes conseguiram que um profissional fizesse o socorro da paciente.
Angela conta que o médico nem sequer olhou no rosto da adolescente e prescreveu remédios. Alguns minutos depois de tomar o medicamento, ela melhorou, mas voltou a ter os sintomas algumas horas depois.
A mãe afirma estar preocupada porque os remédios são todos paliativos e não há diagnóstico. O fato da jovem estar grávida preocupa ainda mais a mulher, já que em nenhum dos locais que passou foi solicitada uma ultrassonografia para saber a situação do bebê.
Outro lado
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que o controle de ponto nas unidades públicas de saúde está em fase de estudo e ainda não há previsão para a instalação. Equipamentos biométricos, bem como câmeras de segurança para se evitar a sabotagem do aparelho, demanda custos elevados.
Conforme o órgão, o controle dos médicos é feito por coordenadores, que fazem vistorias constantes nas unidades. Casos de atrasos constantes e de faltas são passíveis de demissão e desconto no salário.
Quanto à falta de médicos, a SMS alega que tem vagas em aberto, mas faltam profissionais no mercado, principalmente pediatras.