Sem receber da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) desde outubro de 2013, 15 médicos da Cooperativa de Médicos Anestesistas do Estado de Mato Grosso (Coopanest-MT) paralisaram parte dos serviços prestados no Pronto Socorro de Cuiabá e passam a atender somente casos de urgência e emergência. Com a suspensão parcial dos trabalhos, a média de cirurgias realizadas diminui 75% por dia e os pacientes eletivos terão que aguardar, sem prazo definido, para atendimentos. Normalmente, são realizados 30 procedimentos diariamente. Agora, o número de cirurgias não passa de 8.
Um dos médicos, que não quis se identificar, explica que os anestesistas da Coopanest-MT são contratados para suprir a demanda de atendimento do PS, que tem somente 10 anestesistas concursados, número insuficiente de profissionais para a carga da unidade de saúde.
Explica ainda que o contrato com a SMS foi firmado há 2 anos, mas em 2013 os atrasos de pagamento começaram. “Como tudo que é público, começou uma maravilha e os próprios gestores afirmavam que nunca o serviço de anestesia funcionou tão bem. Mas o contrato venceu em agosto do ano passado e iniciou o problema”, relata o médico.
Há 3 meses os médicos tentam conversar com a SMS para regularizar os pagamentos, mas por falta de definição sobre a situação, decidiram pela suspensão parcial do atendimento. “Recebemos a última vez em outubro, fevereiro já está iniciando e o tempo todo mantivemos nossa escala, cumprimos rigorosamente o serviço e a contrapartida da SMS não é cumprida. A situação é insustentável”.
Entre os pacientes afetados pela falta de repasse para os médicos está Eduardo Ramalho Pedreira Reis Júnior, 21, que sofreu um acidente de motocicleta há 15 dias e fraturou a perna em 3 locais, além de sofrer a amputação de um dedo do pé. Internado na Sala Verde, ele relata que cada hora recebe uma desculpa para não passar pela cirurgia. “Primeiro não tinha material, depois acabou o medicamento e agora os anestesistas estão em greve”.
O rapaz relata que não pode se mexer, pois corre risco de ter os movimentos da perna comprometidos. “Igual a mim, tem muita gente aqui sem chance de ser atendido. Até mesmo os médicos orientam os pacientes a procurarem a Defensoria Pública e entrar na Justiça para conseguir atendimento”.
Outro lado
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) confirma a suspensão de parte do atendimento prestado pela Cooperativa de Médicos Anestesistas do Estado de Mato Grosso (Coopanest-MT) e destaca que busca meios de resolver o problema dos pacientes do Pronto Socorro Municipal de Cuiabá.
Por meio de nota, a SMS aponta que “todas as medidas legais e administrativas necessárias estão sendo tomadas para a resolução da situação junto à Coopanest-MT o mais rápido possível”. Reafirma ainda que as cirurgias eletivas estão suspensas e somente os casos de urgência e emergência serão atendidos.
Em 2013, o Pronto Socorro recebeu cerca de 39 mil pessoas, ocasionando uma média de 110 recebimentos de pacientes por dia. Trinta por cento vêm do interior de Mato Grosso.
Relatório do hospital aponta que no ano passado ocorreram 6.672 casos de internações por causas externas. Dos casos, 68% são relacionados a acidentes de trânsito, sendo 47% envolvendo motocicletas e 21% automóveis. A maioria politraumatizados, que precisam de cirurgias ortopédicas. O restante dos pacientes teve como causa de internação tentativas de homicídios, quedas, queimados e acidentes diversos.
A maioria das vítimas dos acidentes de trânsito é homem, com idade entre 20 e 29 anos. São pessoas que passam meses internadas e demandam do atendimento especializado. Conforme o PS, a unidade enfrenta problemas sérios para internar adequadamente os pacientes. São oferecidos 250 leitos no hospital, número inferior à capacidade necessária para acomodar o total de doentes.