Dietas, exercícios, medicalização, cirurgias, transformações. São muitas as maneiras de se lidar com o corpo e também os motivos que levam a estas práticas. O interesse em uma vida mais longa e saudável e a busca pelo padrão de beleza vigente estão entre eles. O corpo pode ser ainda um espaço de expressão artística, como é o caso da modificação corporal, feita a partir de tatuagens, implantes e colocação de adereços que alteram a aparência de forma radical – artista francesa Orlan é um dos nomes mais famosos dessa prática e já teve nove cirurgias de implantação de próteses transmitidas via satélite. No âmbito político, carne, osso e, principalmente, pele são um veículo para protestos dos mais variados. Em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil, ciclistas adotaram a prática de pedalar nus em manifestações para exigir direitos num mundo cada vez mais dominado pelos carros.
As muitas vertentes dessa relação e seu impacto na sociedade e no meio ambiente são o tema do evento “Corpo, Consumo e Saúde: Reflexões Contemporâneas”, que será realizado em Cuiabá, no Auditório da Pós- Graduação do Instituto de Linguagens da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, entre os dias 15 e 18 de setembro. O encontro, que conta com apoio do Ecco – Programa Pós-Graduação em Cultura Contemporânea e financiamento da Fapemat, será composto de conferências com profissionais conhecidos por suas experiências com seus corpos, além de mesas redondas com pesquisadores de várias áreas de conhecimento e de diversas regiões do Brasil.
“O evento contribuirá para uma reflexão em nível nacional sobre temas vinculados aos modos de lidar com o corpo na contemporaneidade e o investimento dado ao mesmo, abordando práticas que visam obtenção de saúde, as relações com o meio ambiente e o consumo”, explica a professora Dra. Silvana Maria Bitencourt, uma das organizadoras do evento. A conferência de abertura ficará a cargo da Prof. Dra. Icleia Lima e Gomes, da UFMT, e terá como tema “De Kodak, super quink e Parmalat: memórias de uma pele de setenta”. Já o encerramento será com Míriam Adelman (UFPR), que utiliza a relação entre humanos e cavalos como ponto de partida para refletir sobre gênero, corpo e cultura.
As palestras trazem temas que provocam muita controvérsia como a alimentação à base de luz, que será apresentada pelo facilitador Oberom, do Portal Viver de Luz. A prática de alimentação frugívora será exposta pelo especialista Eduardo Corassa, que há oito anos consome apenas alimentos crus. Outro destaque do evento é o escritor Thiago Ricardo Soares, autor do livro “Modificação Corporal no Brasil”
As mesas de debates reunirão pesquisadores e especialistas para traçar um painel a respeito dos reflexos que as práticas vigentes de alimentação e consumo tem sobre o meio ambiente. Num panorama em que o esgotamento dos recursos naturais vem se agrando, os atos de comer ou comprar, que são uma fonte de prazer para muitas pessoas, não estão livres de significados mais profundos. Eles têm impactos sobre a sociedade como um todo e podem agravar problemas como a falta de água ou o excesso de resíduos sólidos.
“Pretendemos produzir uma reflexão brasileira, em sua diversidade, incluindo aí o olhar mato-grossense, sobre um tema cosmopolita. Sabemos que é importante estudar nossa região, mas também é importante produzir aqui pesquisas sobre o Brasil e o mundo”, ressalta a prof. Dra. Juliana Abonizio, uma das idealizadoras do evento. As mesas de debate também terão um encontro destinado a tratar das estéticas contemporâneas, incluindo aí as práticas de transformação e o uso de psicofármacos para obtenção de estados de consciência considerados desejáveis.
A produção bibliográfica também terá espaço durante o evento. Ao todo, serão lançados sete livros produzidos por pesquisadores que farão parte do encontro. Veja a programação: