O desembargador Orlando Perri enviou um ofício ao presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, desembargador Rui Ramos, solicitando que uma sindicância contra ele seja aberta para apurar a denúncia de que teria autorizado interceptações telefônicas ilegais no período em que esteve à frente da Corregedoria-Geral da Justiça. O pedido foi feito no dia 21 de julho. O pedido foi acatado pelo presidente e a sindicância já está em andamento.
Segundo Perri, tal acusação rendeu ameaças veladas para que deixasse a relatoria do caso que ficou conhecido como “grampolândia pantaneira”, que apura a denúncia de que grampos ilegais teriam sido feitos contra centenas de pessoas por membros da Polícia Militar com aval do governo.
Conforme Perri, o coronel da PM e secretário de Estado de Justiça e Direitos Humanos, Airton Benedito de Siqueira Júnior, por meio de interlocutores, foi o autor das ameaças e responsável por levar o caso à imprensa com o propósito de desacreditar as decisões tomadas por ele, além de criar sua suspeição ou impedimento para conduzir o processo de investigação dos grampos.
“As sobreditas ameaças vieram a se concretizar nas declarações prestadas pelo coronel Airton Benedito de Siqueira Júnior. Acusa-me de haver feito interceptações ilegais por ocasião de minha passagem pela Corregedoria-Geral da Justiça, as quais foram, propositadamente, derramadas na imprensa com o inequívoco propósito de desacreditar as decisões por mim já tomadas ou que venha a tomar, além, claro, de criar minha suspeição ou impedimento”.
Contudo, o magistrado nega que tenha cometido irregularidades em ações de interceptação e pede que o caso seja esclarecido. “Nada do que me acusam aconteceu. A elucidação dos fatos pode e deve ser feita por meio de sindicância a ser instaurada por Vossa Excelência, com acompanhamento do Ministério Público e da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção de Mato Grosso”, requereu por meio do ofício.
Na semana passada, Perri determinou a abertura de um inquérito contra Airton Siqueira para apurar supostos crimes militares, como prevaricação, condescendência criminosa e corrupção passiva depois que o coronel prestou depoimento na Corregedoria da Polícia Militar e relatou que o ex-prefeito de Lucas do Rio Verde Otaviano Pivetta teria sido grampeado durante as eleições municipais de 2016.
Mesmo com o conflito político gerado em torno de Siqueira, o governo insiste em defendê-lo e o mantém no cargo de secretário de Estado com o argumento de que apesar da gravidade de suas declarações, ele não é investigado ou suspeito, mas que apenas prestou depoimento por livre e espontânea vontade.