O dicionário é incisivo: “Fidelidade é o atributo ou a qualidade de quem ou do que é fiel, para significar quem ou o que conserva, “mantém”, preserva mesmo as suas características originais, pode-se dizer quem ou o que mantém-se fiel à referência”. Essa concepção filosófica com o devido tempero comum da prática política brasileira estará em julgamento nesta quarta-feira no Supremo Tribunal Federal (STF), onde serão apreciados três mandados de segurança apresentados pelos partidos de oposição que pedem a devolução dos mandatos dos deputados que trocaram de legenda neste ano. A decisão poderá ter um efeito devastador em Mato Grosso, tanto quanto o clima de momento.
A começar pelo governador Blairo Maggi. Reeleito no primeiro turno, no começo do ano Maggi liderou um dos maiores movimentos de transferências partidárias desencadeadas no Estado: deixou o PPS, com quem se desentendeu em função da reeleição de Lula, e se filiou ao recém-criado Partido da República – formado da fusão entre o Partido Liberal e o Prona. Na época da eleição, em 2006, o PPS apoiou o nome de Geraldo Alckmin a presidente e Maggi foi no sentido contrário. O partido de origem do segundo mandato do governador chegou a estudar entrar nos tribunais, embora o foco o principal seja mesmo os mandatos dos deputados.
Em verdade, Maggi corre menos riscos de ter seu mandato cassado pela infidelidade partidária que o deputado federal Homero Pereira. Eleito pelo PPS, o líder ruralista acompanhou Maggi na transferência para o PR. O PPS quer porque quer a vaga. Outro deputado federal que mudou de partido, mas não corre nenhum risco, é Wellington Fagundes, que foi eleito pelo PL e integrou a fusão partidária.
A situação se complica, porém, na Assembléia Legislativa. No Palácio Dante Martins de Oliveira, hoje, em que pese dia intenso de atividades políticas, todas as atenções estarão voltadas para o STF. Os efeitos do julgamento do STF sobre a fidelidade partidária poderão chegar a sucessão em Cuiabá. É que dois candidatos de peso, os deputados Walter Rabello e Sérgio Ricardo, poderão ficar sem mandatos. Sérgio Ricardo trocou o PPS pelo PR e Rabello saiu do PMDB para se filiar ao PP. Sem mandatos, ambos perderiam fôlego e enfrentariam grandes dificuldades para chegar a eleição do ano que vem.
Outro que terá dificuldades no seu planejamento eleitoral de 2008, caso perca o mandato por infidelidade partidária, é o deputado Guilherme Maluf, eleito pelo PSDB e que acertou o ingresso no PMDB. Maluf está licenciado da Assembléia Legislativa. Ele ocupa atualmente o cargo de secretário Municipal de Saúde. Sua vaga está sendo ocupada por Carlos Avalone Júnior. Maluf almeja ser vice de Wilson Santos e, se vencer as eleições, “ganhar” dois anos como prefeito de Cuiabá – já que Santos planeja, por sua vez, disputar o Governo em 2010.
No Legislativo, trocaram também de partido os deputados Mauro Savi, atual líder do Governo, eleito pelo PPS e atualmente no PR; e João Malheiros, licenciado do cargo para ser secretário-chefe da Casa Civil do Governo, que fez o mesmo caminho de Savi e Sérgio Ricardo, ou seja, saiu do PPS para entrar no PR. A deputada Chica Nunes, eleita pelo PSDB, também “ensaia” migrar para outra sigla, o PP.
Situação idêntica está na Câmara de Cuiabá. Dos 19 eleitos em 2004, sete já trocaram de partido. Alguns mais de uma vez no período. Já trocaram de partido os vereadores Lutero Ponce, eleito pelo PMDB, agora no PP, mas com filiação definida no PMDB; Mário Lúcio, eleito pelo PV, mas agora filiado no PMDB, Luiz Pereira “Poção”, que se elegeu pelo PMDB, entrou no PSDB, está sem partido, mas com ingresso definido no PP; Helny de Paula, que acompanhou Maggi do PPS para o PR; Domingos Sávio Parreira, eleito pelo PT, agora no PMDB; Francisco Vuolo, no mesmo caminho de Helny; Leve Levi, que saiu do PMDN e entrou no PSDB, mas devendo se filiar ao PP.
Na leva de troca de partidos, está previsto ainda a saída de Lueci Ramos, eleita pelo PFL, para o PSDB; e de Deucimar Silva, eleito pelo ex-PFL (agora DEM), e que deverá se filiar ao PP também.