O ex-governador Silval Barbosa (PMDB) saiu, esta noite, por volta das 20:20h do centro de ressolicialização após 1 ano e 9 meses e passa a cumprir prisão domiciliar e está usando tornozeleira. Ele foi solto pela juíza após nova estratégia da sua defesa onde admite participação em esquemas de corrupção, alvos da Polícia Civil e Ministério Público Estadual e confessou que praticou crimes investigados nas diferentes fases da Operação Sodoma. A juíza Selma Rosane Santos Arruda revogou as 3 prisões preventivas após ele oferecer R$ 46,6 milhões em bens com pedido de substituição de prisão domiciliar e medidas cautelares alternativas.
Silval deixou a cela em uma viatura da polícia e não conversou com jornalistas. Na delação, Silval entregou 12 pessoas, incluindo o próprio filho, Rodrigo da Cunha Barbosa, como membros da organização criminosa que ele admite que foi montada para arrecadar valores para custear dívidas e campanha política. Detalhou a participação de cada uma delas na quadrilha e a função exercida por cada membro. Os interrogatórios foram prestados por Silval nos dias 1º de junho deste ano na Delegacia Especializada de Crimes Fazendários e Administração Pública. O ex-governador detalhou a função de cada um dos membros e os valores de propina que cada um recebeu. Citou a participação de seu ex-chefe de gabinete, Silvio César Corrêa Araújo, os ex-secretários estaduais Pedro Nadaf, Francisco Gomes de Andrade Lima Filho, (Chico Lima), César Roberto Zílio, Pedro Elias Domingos de Melo, Valdísio Juliano Viriato, Arnaldo Alves, Marcel Sousa de Cursi, Afonso Dalberto, Francisco Anis Faiad e José de Jesus Nunes Cordeiro.
Sobre ao desvio de dinheiro apontado pelo Ministério Público envolvendo o pagamento da desapropriação no bairro Jardim Liberdade para empresa Santorini Empreendimentos, Barbosa afirmou que “tal procedimento foi realizado com único propósito de desviar dinheiro público do Estado em benefício da organização criminosa, já que possuía uma dívida com Valdir Piran, decorrente de empréstimos tomados na campanha e que com a negociata conseguiu levantar R$ 10 milhões”.
Na confissão, Silval explica que além de pagar Piran, também repassou valores desviados dos cofres públicos para o ex-secretário chefe da Casa Civil, Pedro Nadaf, o procurador aposentado Chico Lima e o ex-presidente do Intermat, Afonso Dalberto. Conforme Silval, eles “receberam propina para colaborar com o sucesso da empreitada criminosa”.
Silval também confirma a tese do Ministério Público e diz que os ex-secretários estaduais Arnaldo Alves de Souza Neto (Planejamento) e Marcel Souza de Cursi (Sefaz) concorreram para a prática do crime. Ele diz, no entanto, que não se recorda se recordando se esses dois efetivamente receberam parte da propina combinada.
“O total do desvio foi de R$ 31,7 milhões, sendo que o combinado com a empresa Santorini era o retorno da propina no montante da metade desse valor”, consta na decisão da juíza Selma Arruda. No decorrer das investigações e na denúncia, o Ministério Público detalhou que o esquema envolveu a desapropriação de uma área de 55 hectares localizada no bairro Jardim Liberdade, em Cuiabá, e adquirida pelo Estado por R$ 31,8 milhões quando estava avaliada em R$ 17, 8 milhões.
As investigações apontam que a organização criminosa chefiada por Silval Barbosa, agindo por intermédio do braço instalado no Instituto de Terras de Mato Grosso (Intermat), solicitou e recebeu propina no valor de R$ 15,8 milhões entre abril e novembro de 2014.
Em outro trecho da confissão o ex-governador também confessou a prática de concessão de incentivos fiscais via Prodeic empresas do grupo Tractor Parts mediante pagamento de propinas. O grupo pertence ao empresário João Batista Rosa, delator na 1ª fase da Operação Sodoma. Ele disse que pagou R$ 2,6 milhões em propina ao grupo criminoso chefiado por Silval Barbosa para manutenção dos benefícios fiscais que as empresas dele estavam usufruindo.
Agora, na confissão, Silval confirmou os detalhes que vinha negando há mais de 1 ano e meio. Disse que no ano de 2011 foi procurado por João Batista Rosa que acompanhado de Pedro Nadaf, à época Secretário da Secretaria de Indústria, Comércio, Minas e Energia. O empresário queixou-se porque tinha um crédito tributário que não era reconhecido pela Sefaz.
O ex-governador confessa que encaminhou o empresário para tratar do assunto na Sefaz onde ele conversou com o então Secretário Adjunto Marcel de Cursi, que inicialmente recusou-se a reconhecer o crédito. “Com relação a este episódio, esclarece que, em razão das dívidas de campanha das eleições do ano de 2010, assumiu um grande passivo a ser saldado e, por isso, escolheu alguns secretários para o recebimento de propina e para saldar as dívidas assumidas”, consta na decisão.
Silval revelou que Marcel de Cursi também recebeu propina através da operação e também por intermédio de Pedro Nadaf.
Silval sai da prisão e advogado concede entrevista