O ex-governador Silval Barbosa (PMDB) negou que tenha sido vítima de extorsão supostamente praticada por um grupo de jornalistas de Cuiabá. A declaração foi feita à juíza da Vara Contra o Crime Organizado da capital, Selma Arruda, durante audiência referente à ação penal derivada da operação Liberdade de Extorsão, esta tarde.
Ao promotor Sérgio Silva Costa, o ex-governador disse que não determinou o repasse de R$ 100 mil ao dono do grupo Millas de Comunicação, Antônio Carlos Millas, para que matérias sobre casos de corrupção em seu governo não fossem publicadas.
Segundo as investigações da Delegacia Fazendária (Defaz), o ex-secretário da Casa Civil, Pedro Nadaf, teria repassado o valor ao jornalista, a mando do ex-governador. Seriam, conforme os investigadores, dois cheques no valor de R$ 30 mil e um de R$ 40 mil. “Todos [os donos de veículos de comunicação] chegavam até a mim quando não conseguiam receber [pelo serviço de publicidade] da Secretaria de Comunicação. Me lembro que o senhor Antônio Carlos esteve em meu gabinete afirmando que havia prestado serviço ao Governo do Estado, mas que não tinha recebido. Não me lembro de uma tentativa de extorsão, mas de uma pressão de Antônio Carlos”.
Silval ainda declarou que, após a cobrança e com o fato de Antônio Millas ir, insistentemente, até o Palácio Paiaguás, determinou que Pedro Nadaf resolvesse o problema, realizando o pagamento dos serviços que o jornalista teria prestado ao governo do Estado. “Ele [Antônio Millas] dizia que era por serviços prestados para o governo. Me lembro que tratei sobre esse assunto com Pedro Nadaf. Pedi para ele achar uma forma de pagar, pois o ‘cidadão’ não saía da sala [de recepção do gabinete]. [Dias após] Nadaf deu o retorno dizendo que havia acertado a questão. Ele só falou para mim que havia resolvido, mas não sei como. Achei que era de forma legal, por meio da secretaria”.
Silval ressaltou que não se sentiu ameaçado ou que a cobrança feita por Antônio Millas se tratava de uma tentativa de extorsão. “Comigo ele chegava a mim em uma forma de pressão. Ele não iria me ameaçar, pois eu determinaria a prisão dele, se fizesse isso”.
Já o ex-secretário-chefe da Casa Civil, Pedro Nadaf, afirmou no depoimento que, atendendo a um pedido do ex-governador Silval Barbosa (PMDB), realizou o pagamento de R$ 200 mil ao dono do grupo. “O governador me chamou e disse que devia esse valor ao Antônio Millas. Ele marcou uma outra reunião com o próprio Antônio e disse que eu faria o pagamento. Maycon [Milas] era quem ia até a Casa Civil receber os pagamentos”.
De acordo com Nadaf, ele tinha conhecimento de que a dívida com o jornalista era algo pessoal de Silval, mas não tinha conhecimento se o valor era uma questão de extorsão.
Além disso, ele explicou que o pagamento dos R$ 200 mil foi feito com o dinheiro arrecadado por duas formas: R$ 100 mil oriundos do caixa dois da organização criminosa que existia no Governo do Estado, e os outros R$ 100 mil do empresário do ramo de factoring, Filinto Muller. “Passado alguns dias, eu peguei um valor emprestado para ser abatido da operação Liberdade, que Filinto Muller estava operando no caixa da organização criminosa”, disse Nadaf, explicando que o pagamento foi feito parte em espécie e o restante em três cheques.
“Pedi para Chico pegar com Filinto R$ 100 mil em três cheques. Entreguei para Maycon. Passado uns 20, 30 dias, Antônio Carlos começou a insistir pedindo uma audiência na Casa Civil. Aí marquei para atendê-los”, detalha.
De acordo com Nadaf, nesta reunião Antônio Millas lhe mostrou fotos do alvará da empresa que havia emitido os cheques usados para lhe pagar e que tais valores eram fruto de um esquema de propina.
O ex-secretário ainda relatou que Antônio Millas teria insistido para que Nadaf marcasse uma reunião com Filinto Muller. “Falei: ‘Olha, peguei com uma factoring, não tem nada a ver, se quiser fale com o proprietário da factoring’. Aí ele levantou e foi embora, mas ficou insistindo que queria falar com proprietário. Falei com Chico e pedi que marcasse com Filinto”, disse.
Nadaf afirmou que a reunião entre um dos representantes do Grupo Millas e Filinto Muller ocorreu, mas que não participou de toda ela. “Passado uns dias, Chico [ Francisco de Andrade Lima Filho] disse que Filinto teve que pagar R$ 300 mil como extorsão para que eles não divulgassem a empresa”, disse Nadaf.
O ex-secretário afirmou ainda que Filinto Muller pagou tal valor, pois os jornalistas teriam descoberto que a empresa S F Assessoria estava em nome de um terceiro, usado como “laranja”.
De acordo com a denúncia do Ministério Público Estadual (MPE), cinco jornalistas são acusados de levantar informações de agentes políticos, empresários que detinham contratos com o poder público e pessoas físicas de alto poder aquisitivo, para cometer o crime.
Na ação são réus: Antônio Carlos Millas de Oliveira e seus filhos Max Feitosa Millas e Maykon Feitosa Millas, do grupo Millas e Comunicação, ligados ao jornal Centro-Oeste Popular; o editor-chefe do Brasil Notícias, Naedson Martins da Silva; e os jornalistas Antônio Peres Pacheco e Haroldo Ribeiro de Assunção.