O Brasil é o país da impunidade”. A frase não é nova, mas proferida pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS) se torna um alerta eloqüente e de grande preocupação. “Nunca sabemos se a sentença será comprada ou não” – disse o polêmico senador, em visita a sede da Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso, ontem. Ele se referiru a “Operação Furação”, que prendeu magistrados, empresários, procuradores federais, entre outros, acusados de envolvimento numa quadrilha para o crime organizado.
Simon foi taxativo ao tratar da crise do Judiciário brasileiro. O senador deixou claro que há uma grande preocupação com relação ao momento nacional. Ele enfatizou, no entanto, que o próprio Judiciário têm contribuído para agravar o atual quadro, ao adotar decisões equivocadas em relação às pessoas presas naquela operação. Ele criticou tratamentos diferenciados e libertação de acusados. “Só pobre e ladrão de galinha vão para a cadeia” – acentuou. Simon comparou a situação ao “dramático momento” do impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello.
Simon lembrou que por anos se acusou o parlamento brasileiro pelas mazelas nacionais. Uma das maiores críticas da sociedade era contra o espírito corporativo da Câmara dos Deputados e do próprio Senado, que não permitiam que senadores e deputados fossem processados. “Antigamento o Supremo fazia o processo e encaminhava para o Parlamento, que sequer tinha coragem de negar o andamento do processo: engavetava, ficava lá.. Hoje não é preciso mais pedir licença. Mas o Supremo está deixando a desejar” – atacou o senador.
Apesar disso, Pedro Simon se disse um otimista. Ele considera que o Brasil tem uma grande oportunidade para tirar proveito dessa crise. Ouvido atentamente pelos advogados que compõe o Conselho Seccional da OAB em Mato Grosso, o senador gaúcho elogiou o papel institucional da Ordem, que sempre cobrou providências por parte do Judiciário no tocante aos grandes temas de interesse nacional. “Temos que ter grande orgulho da OAB” – disse. “Temos uma grande corporação”.
Pediu, contudo, que os profissionais da advocacia atuem com ética e na defesa dos interesses da democracia e das instituições nacionais. Observou que a Constituição brasileira é sábia e determina que todos e qualquer cidadão precisam de um advogado em sua defesa. Porém, lamentou que muitos grandes advogados estejam se associando ao crime organizado, na defesa dos seus clientes. “As quadrilhas hoje no Brasil são formadas por senadores, deputados federais, desembargadores, bispo… Estamos copiando a velha Itália” – alertou, ao destacar que o Brasil “está vivendo dias importantes”.
Duro oposicionista, Simon criticou o presidente Lula e o seu comportamento político. Para ele, está chegando o momento do presidente da República tomar posições para a defesa dos interesses reais da sociedade. Aproveitou para alfinetar a reforma política: “Achei que tivesse terminado” – ironizou, lembrando a indicação de Mangabeira Unger para ocupar um cargo em um ministério (ou secretaria) a ser criada pelo Governo, que vai abrigar o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) e elaborar ações estratégicas para o desenvolvimento a longo prazo do país. Simon lembrou que Roberto Mangabeira chamou Lula de corrupto e, para ser ministro, disse que vai pedir desculpas ao presidente.
O senador gaúcho veio a Mato Grosso a convite dos organizadores do Encontro Regional de Operadores do Direito (Ered), que se realiza na Centro Universitário Univag. Ao desembarcar em Cuiabá, o senador foi recepcionado pelo presidente da OAB, Francisco Faiad, que o convidou para um pronunciamento aos advogados. “É, com certeza, um dos maiores expoentes da política brasileira, um homem honesto, de coragem e de posições claras. A OAB de Mato Grosso se sente orgulhosa pela sua presença nesta Casa” – disse Faiad.