Em discurso acalorado na tribuna do Senado nesta segunda-feira (19), o senador Cidinho Santos engrossou o tom e acusou o Governo Federal de agir de forma complacente junto à Força Nacional, ao permitir a ação da polícia de bloquear as rodovias federais de acesso à Gleba Suiá-Missú (Alto Boa Vista), na tentativa de forçar os moradores da região a assinarem o termo de desocupação.
“O que me parece é que temos os índios, que merecem toda a atenção do Governo Federal, e do outro lado, brancos, que mal fazem parte da pátria brasileira e que mesmo no Brasil do século XXI, tiveram seu direito de ir e vir cerceados pela força policial que, aliás, deveria agir com o mesmo afinco, a mesma rapidez prendendo bandido e marginal de organização criminosa que espalha o caos e o terror em São Paulo e Santa Catarina. E não, levar o medo aos pequenos produtores de uma região pobre do interior de Mato Grosso onde moram trabalhadores, gente ordeira, que está lá porque tem os títulos daquelas terras e que lhes foram dados pelo próprio Governo”, esbravejou Cidinho.
O senador frisou ainda que há meses vem alertando para o caos instalado na terra indígena Marãiwatsédé – onde fica a Gleba Suiá-Missú – sobre o risco de derramamento de sangue, mas, lamenta que ‘sozinho sua voz não terá eco”.
“Faço um apelo, mais uma vez, aos senadores e deputados federais, porque hoje é em Mato Grosso, mas, amanhã pode ser em qualquer outro ente federado. Somente aos xavantes – povo em litígio pela área da Suia-Missú- foram demarcados 1,5 milhão de hectare de terra para uma população de 17 mil índios. Ou seja, é o equivalente a 25 mil hectares para cada família de xavante. Será que a solução é mais terra, sendo que isso é só para essa etnia?”, questionou o senador.
O parlamentar apresentou dados estatísticos exibidos em uma reportagem da revista Veja (edição de 03 de novembro) comprovando que a qualidade de vida da população indígena no Brasil está muito mais atrelada à falta de investimento em infraestrutura e programas de Governo, que ao simples domínio ou posse de terras.
“O que vemos são índios com altos índices de depressão, consumo excessivo de álcool e drogas (crack), e os xavantes dessa região, especificamente, já possuem 30 mil hectares nessa mesma região. No que vamos melhorar a qualidade de vida desses 300 indígenas aumentando em mais 160 mil hectares?”, questiona.
Cidinho Santos explica que há entraves que ultrapassam a linha jurídica e política, e denuncia. “O Governo do Estado já tinha conseguido que 85% dos xavantes concordassem com a permuta proposta pelo governador Silval Barbosa em remanejar os índios para uma nova área a ser demarcada pela comunidade que fica no parque estadual do Araguaia, e tem 250 mil hectares (100 mil hectares a mais que a reserva Marãiwatsédé). Mas, ocorre que o senhor Paulo Maldos (da secretaria da Presidência) – ex-marido da presidente da Funai- e Nilton Tubino, estão trazendo a desunião e a desordem à Gleba Suiá-Missú. Se apresentam como emissários da presidente Dilma, mentindo, falando que existem na gleba somente 174 pessoas. Ou seja, nada fazem para que tudo transcorra em paz e de forma civilizada. Peço a intervenção das ministras chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffman, e de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, pois, interesses escusos, que atendem à Funai e à ONG”s, não podem causar tamanha desordem num estado democrático de direito. Isso é um absurdo!”, alarmou Cidinho.
O conflito
O território Marãiwatsédé está situado entre os municípios de Alto Boa Vista, Bom Jesus do Araguaia e São Félix do Araguaia, respectivamente a 1.064 km, 983 km e 1.159 km da Capital, Cuiabá. De acordo com a Justiça, as famílias notificadas têm até 30 dias para deixarem a localidade de forma voluntária. A extensão supera 165 mil hectares.
A ordem de retirada das famílias já foi dada pela Justiça Federal, a pedido da Funai. Ao todo, estima-se que 7 mil pessoas serão diretamente afetadas. Entre elas, estão 900 crianças, que estudam em das escolas, e estão sem saber se vão terminar o ano letivo, porque até o dia 06 de dezembro elas terão que deixar a área.
Segundo a Associação de Moradores da Suiá-Missú, há na gleba 796 propriedades, que não são – diferentemente do que se pode pensar – grileiros ou invasores de terras. Eles, de acordo com a associação, têm a escritura e o registro de suas propriedades, foram incentivados por programas do governo a ocuparem a área há pelo menos 30 anos e onde hoje se produz arroz, trigo, entre outras culturas e onde há todo tipo de comércio.