Sem mandato, sem foro privilegiado. Esta é a situação que três parlamentares mato-grossenses vão começar a viver a partir da zero hora desta quinta-feira, quando encerram seus mandatos na Câmara Federal. São eles: Lino Rossi, PP, Celcita Pinheiro, PFL e Teté Bezerra, PMDB. O trio foi indiciado pela Polícia Federal por envolvimento na Máfia dos Sanguessugas e como não conseguiram suas reeleições passam a ser consideradas pessoas comum e com sério risco de irem para a cadeia por envolvimento em um dos maiores escândalos da política nacional.
As deputadas Celcita Pinheiro, PFL, esposa do senador Jonas Pinheiro e Teté Bezerra, esposa do ex-senador e ex-governador Carlos Bezerra, que nesta quinta-feira assume uma vaga na Câmara Federal foram indiciadas pela PF na semana passada. Na última terça-feira foi a vez do deputado federal Lino Rossi, PP, que sequer disputou a reeleição e que é apontado como o braço direito da família Vedoin na máfia.
Sem mandatos a partir da zero hora desta quinta-feira, os três parlamentares mato-grossenses adotaram a estratégia do esconde-esconde nesta quarta-feira. Nenhum deles apareceu em seus gabinetes no início desta manhã. Procurados, seus assessores se limitavam a informar que os parlamentares não iriam trabalhar e que a ordem era apenas esvaziar gavetas e armários.
Junto com Lino Rossi, apontado como o grande mentor da máfia e homem que aliciava deputados em Brasília, foi indiciado pela Polícia Federal com os deputados Enivaldo Ribeiro, Marcos Abramo, Ildeu Araujo, João Batista Ramos da Silva e Gilberto Nascimento acusado de formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. No total, já são 22 os parlamentares indiciados no caso.
Eles foram indiciados após prestarem depoimento na Polícia Federal em Brasília, alguns na segunda-feira (29) e outros na terça (30). Ao todo, 21 deputados e um senador já foram indiciados pela PF no escândalo do superfaturamento de ambulâncias.
Na sexta-feira (26), a deputada Celcita Pinheiro (PFL-MT) e o senador Ney Suassuna (PMDB-PB) foram indiciados pelos crimes de corrupção passiva, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Os dois foram absolvidos pelos Conselhos de Ética das respectivas Casas.
O deputado Lino Rossi é apontado pelos depoimentos da família Vedoin, dona da Planam e chefe da máfia das ambulâncias, como uma das peças principais do esquema de corrupção junto a deputados e senadores. Conforme os Vedoin, o mato-grossense foi responsável por apresentar os empresários a vários parlamentares. Também teria intermediado negociações com prefeitos. O pepista teria recebido mais de R$ 3 milhões da máfia.
Rossi sempre negou as acusações. Chegou a dizer que seu único pecado era ser amigo de Darci Vedoin. Também alegou que se tivesse recebido tanto dinheiro da máfia não teria a situação financeira complicada.
O deputado foi o único parlamentar contra o qual o Conselho de Ética da Câmara pediu cassação do mandato.
No gabinete do deputado Lino Rossi, o único assessor presente disse que ele estava viajando e que não tinha nada a declarar. Os outros deputados não foram encontrados.
COMO ERA A OPERAÇÃO
A Operação Sanguessuga foi realizada em maio de 2006. Nela, a Polícia Federal prendeu assessores e servidores públicos acusados de utilizar R$ 110 milhões do Orçamento na compra de ambulâncias superfaturadas.
Em depoimento à Justiça Federal, o empresário Luiz Antônio Trevisan Vedoin, dono da Planam, denunciou o envolvimento de mais de 90 parlamentares no esquema.
Segundo as investigações da PF, a empresa Planam, com sede em Mato Grosso, superfaturava o preço das ambulâncias em até 110%. Além disso, a empresa entregava muitas vezes veículos com defeitos ou sem todos os equipamentos.
Um levantamento da Controladoria Geral da União mostrou que, de 3.043 ambulâncias compradas desde 2000, o poder Executivo firmou 38 convênios com a Planam, enquanto outros 891 convênios com a empresa tiveram origem em emendas parlamentares.
O primeiro passo da quadrilha era contatar prefeitos. Em muitos casos, como o próprio Vedoin declarou à CPI, parlamentares ajudavam a cooptar prefeitos para direcionar as licitações em favor da Planam e de outras empresas envolvidas no esquema.
Após a aprovação do texto no Congresso Nacional, Maria da Penha Lino, ex-assessora do Ministério da Saúde, assim como os próprios parlamentares, usavam sua influência para facilitar a liberação dos recursos.