A senadora cassada Selma Arruda (Podemos) criticou o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que na semana passada deu entrevista revelando o plano quase concretizado para matar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, que também é de Mato Grosso. A parlamentar, que é juíza aposentada, disse que entende o momento “limítrofe” em que Janot chegou, mas enfatizou que nada se resolve com violência.
“Nada nesta vida se resolve com violência. Existem, mesmo, momentos limítrofes nesta vida. Quando você trabalha com assuntos estressantes, quando você trabalha com assuntos em que uma canetada sua decida a vida de pessoas, e não só aquela vida, mas a vida de uma sociedade, ou de uma série de outras pessoas, é muito comum que estas pressões levem até o limite”, declarou em discurso na tribuna do Senado.
Ao criticar a atitude de Janot, Selma defendeu o porte de arma dizendo que isso nada tem a ver com a ação praticada pelo ex-procurador, mas entrou em contradição ao comentar que, se o ato fosse concretizado, talvez teria sido melhor para o Brasil. “Eu agradeço também, junto com ele [Janot] a Deus, por não ter terminado esta intenção porque hoje o Brasil teria uma história escrita de forma diferente, e, quiçá, não fosse a melhor para o Brasil. Então, eu deixo aqui registrado o meu descontentamento com este tipo de atitude, não apoio atitudes violentas, sou a favor do porte de armas, e acho até, que neste caso, o porte de armas não interferiu em nada, porque, afinal de contas, nada aconteceu. Sou a favor do porte de armas, sim, mas não a favor de se revolver as coisas desta forma”, analisou.
Mesmo com as críticas a Janot, a senadora não poupou o STF, a quem ela pretende investigar com a abertura da CPI da Lava Toga, cujo pedido de abertura já foi assinado por ela. Na opinião de Selma, a repercussão da entrevista entre os brasileiros, que apoiaram Janot, revela uma crise de instituições e a necessidade de mudanças de atitude dos ministros do Supremo, que, segundo ela, têm a segurança em risco.
“Não posso deixar de fazer aqui, um apelo para que a Suprema Corte ouça as vozes do povo, da Constituição, a voz do Ministério Público, a voz deste Brasil que precisa mudar e se renovar. Porque não é possível que você vá às redes sociais depois de uma notícia dessas e veja a maioria das pessoas dizendo ‘ô Janot, porque que você não terminou de fazer o serviço’ ou ‘ô Janot, você devia ter feito. Poxa vida, isso não é bom, isso não é bonito. Isso deixa um ministro do Supremo muito mais á mercê do perigo do que estaria só com o Janot fazendo uma coisa dessas”, disse.
O senador por Goiás, Jorge Kajuru, que presidia a sessão, elogiou o discurso de Selma, criticou a entrevista de Janot pela revelação “impensada” e disse que “não é por isso que Gilmar Mendes vai virar vítima, porque a última coisa que este cidadão não é, é vitima”.
Selma Arruda é ex-juíza em Mato Grosso, elegeu-se com a plataforma de combate à corrupção, mas está com o mandato cassado no Tribunal Regional Eleitoral por abuso de poder econômico e prática de Caixa 2. Ela é defensora da abertura da CPI da Lava Toga para investigar o judiciário e por sofrer pressão do senador Flávio Bolsonaro (PSL), filho de Jair Bolsonaro (PSL), se desfiliou do partido do presidente e entrou para o Podemos.
Rodrigo Janot foi procurador-geral da República por quatro anos e comandou as investigações da Operação Lava Jato no auge das investigações. Desafeto do ministro Gilmar Mendes, Janot revelou que, num momento de desespero, após o mato-grossense envolver a filha do procurador na Lava Jato, decidiu que mataria dentro do STF. Chegou a entrar armado, ficar a dois metros de distância do ministro, mas em duas tentativas não encontrou o gatilho da pistola e decidiu não concretizar o crime.
No sábado, Janot foi alvo de operação da Polícia Federal, teve arma e material apreendido e está proibido de chegar a 200 metros do STF e de qualquer ministro.