O governador Blairo Maggi disse hoje, em Copenhague, onde está sendo realizada a Cop 15, que se o projeto REDD (Redução de Emissões de gases causadas pela Degradação e pelo Deflorestamento) não der certo em Mato Grosso, não dará em lugar nenhum no mundo. O projeto propõe recompensar financeiramente aqueles que são donos de florestas e vão mantê-las em pé, sem expandir o plantio de alimentos e a criação de gado. “O nosso é claro, tem área demarcada e sistema de monitoramento definidos. É por isso que estamos na frente. Temos áreas disponíveis, temos governança, sistema para monitorar a floresta e produtores e comunidades indígenas dispostos a participar. Por isso vim aqui dizer que se alguém quiser experimentar essa coisa que chamam de REDD, o Mato Grosso é o lugar”, afirmou Blairo, em entrevista para Exame. “Quando venho aqui defender que podemos oferecer ao mundo a chance de financiar o mecanismo de REDD lá no Mato Grosso o que estou querendo dizer é o seguinte: Tudo bem, eu posso deixar essa área sem desmatar, mas aqueles que têm o direito de usar até 20% das suas propriedades para alguma atividade econômica não vão deixar de fazê-lo de graça. Eles precisam receber algo por isso. Qual é o custo de oportunidade que o produtor tem naquela área? Se ele criar gado, quanto essa atividade dará de lucro real para ele? O pagamento pelo serviço ambiental de deixar aquela área de pé deve ser equivalente”, apontou o governador mato-grossense.
Leia outros trechos da entrevista concedida a repórter Ana Luiz Herzog, de Exame,
Exame: O senhor foi bem claro. O desafio ambiental do Mato Grosso não está relacionado com a agricultura, que ocupa apenas 8% do território, mas com a pecuária – que ocupa 25% e é ainda muito extensiva, pouco produtiva. O senhor falou em reduzir de 25% para 15% a área destinada à pecuária para que a agricultura possa avançar nesses territórios, sem que seja preciso avançar sobre a floresta. Qual o plano para fazer isso?
Blairo: O primeiro passo foi dado há cerca de três anos quando a pecuária no estado se estabilizou em 26 milhões de cabeças de gado. E a redução de quase 80% no desmatamento nos últimos anos bate com isso. Ou seja, paramos de crescer o rebanho e a intensidade do desmatamento também diminuiu. Agora vem a segunda parte, que é integrar a pecuária com a agricultura. Ou seja, áreas de pecuária que são boas para a agricultura devem ser convertidas. Ao fazer isso, temos a possibilidade de manter as duas atividades na mesma área.
Exame: E isso já vem sendo feito?
Blairo: Sim, há um exemplo de uma fazenda da Camargo Corrêa no Mato Grosso que se chama Arroz sem Sal. Ela tinha em torno de 21 000 hectares e só conseguiam ter cerca de 12 000 cabeças, – o que significa muita área para pouco gado. Há cerca de três anos eles converteram 11 00 hectares para a agricultura, mas continuaram a ter o mesmo rebanho. Com os resíduos da agricultura e a melhoria do solo proporcionada pela agricultura é possível sair de cerca de meio boi por hectare para duas três cabeças por hectare ao ano.
Como o Estado ganha com isso?
Com essa conversão o estado vai poder triplicar a sua produção agrícola nos próximos anos e manter o mesmo rebanho que está estabilizado em 26 milhões de cabeças. Essa é a grande questão que precisamos equacionar no estado. Ou seja, como o estado do Mato Grosso continuará produzindo cada vez mais? Vamos produzir cada vez mais, mas na mesma área que já usamos. Vamos cuidar do meio ambiente e manter o posto de líder do agronegócio brasileiro.