O ministro da Secretaria de Aviação Civil, Eliseu Padilha, adotou um tom comedido sobre orompimento do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, com o governo federal. Para ele, a decisão de Cunha, a quem chamou de “um dos mais brilhantes parlamentares da Casa”, não afeta a relação do governo com o Congresso.
“As relações serão normais entre os dois Poderes. Penso que em todas as pessoas que chegam aonde chegou o presidente Cunha, está implícita a responsabilidade dos chefes de Poder. Os interesses da nação se sobrepõem aos interesses conflitantes entre um e outro Poder”, disse o ministro, hoje (20), em Brasília.
Padilha, que integra o núcleo de articulação política do governo, disse que respeita a opinião do presidente da Câmara e negou qualquer envolvimento do governo com as investigações da Operação Lava Jato que envolveram o nome de Cunha. Ele deu como exemplo a citação de pessoas ligadas ao governo como prova de que não há influência no trabalho da Polícia Federal ou do Ministério Público.
“Vários integrantes do Poder Executivo também sofrem acusações neste processo. O governo, efetivamente, não tem nenhuma influência no Ministério Público e na Polícia Federal, especificamente neste caso, a Lava Jato. É uma percepção pessoal dele, que a gente tem entendimento diferenciado”, disse o ministro. Padilha acrescentou que o governo vai “intensificar a harmonização das relações” com o Congresso Nacional após a retomada dos trabalhos legislativos, a partir de agosto.
Padilha e outros ministros participaram de reunião com a presidenta Dilma Rousseff, na manhã de hoje, para fazer um balanço do semestre. Além dele, estavam na reunião Aloizio Mercadante, da Casa Civil; Joaquim Levy, da Fazenda; José Eduardo Cardozo, da Justiça; Nelson Barbosa, do Planejamento, Orçamento e Gestão e Jaques Wagner, da Defesa.
Parlamentares também participaram do encontro, como o líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral (PT-MS); o líder do governo no Congresso, o senador José Pimentel (PT-CE), e o deputado José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara.
A oficialização do rompimento de Eduardo Cunha com o governo ocorreu na manhã de sexta-feira (17). No anúncio, o presidente da Câmara acusou o governo de “orquestrar” a Lava Jato para prejudicá-lo. “Está muito claro para mim que esta operação [Lava Jato] é uma orquestração do governo”.
Cunha acusou o Executivo de interferir nas investigações da Lava Jato, mesmo com o envolvimento de petistas. Segundo ele, esses nomes não fazem parte do “processo”. “O governo tem ódio de mim, não me engole e fez tudo para me derrotar. Eu ignorei até agora este processo. Tem um bando de aloprados no Palácio [do Planalto]” afirmou, sem citar nomes.
A decisão de Cunha de romper com o governo de Dilma Rousseff ocorreu um dia após depoimento do empresário Júlio Camargo ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pelas investigações da Operação Lava Jato. Camargo acusou o peemedebista de receber US$ 5 milhões em propina para viabilizar um contrato de navios-sonda da Petrobras para a empresa Toyo Setal.
Cunha negou envolvimento no esquema. “Não aconteceu nada daquilo. Ele [Júlio Camargo] mesmo disse que não entregou nada para mim. Entregou para um terceiro. A história está muito mal contada. É uma história fantasiosa”, disse o deputado.