O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares afirmou que todas as campanhas do Partido dos Trabalhadores foram financiadas por meio de caixa-dois, informa a colunista Mônica Bergamo, em reportagem publicada neste sábado na Folha de S.Paulo.
As afirmações foram feitas em depoimento espontâneo ao procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza. Delúbio decidiu falar depois que o empresário Marcos Valério, apontado como um dos operadores do “mensalão”, revelou a existência dos empréstimos ao depor na Procuradoria.
Em seu depoimento, Delúbio afirmou ainda que boa parte do dinheiro foi obtida por empréstimos feitos por Valério, que repassava os recursos para o PT. De acordo com o ex-tesoureiro petista, isso comprovaria que não houve utilização de recursos públicos ou superfaturamento de contratos de estatais –segundo ele, se assim fosse, o PT não precisaria pagar juros bancários.
Delúbio não especificou os candidatos do PT que receberam dinheiro clandestino em suas campanhas, mas deixou claro que foram “todos”.
Ele isentou apenas a campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. Para Delúbio, a candidatura Lula na ocasião era tão forte que havia muita doação regular e espontânea de dinheiro.
Para o ex-tesoureiro, a prática de caixa-dois é generalizada no país e adotada por todos os partidos.
Nota
Marcos Valério divulgou nesta sexta-feira (15) uma nota na qual afirma que contraiu empréstimos “perfeitamente legais” e “transparentes” para financiar dívidas do PT.
Segundo o publicitário, ele capitalizava o partido a pedido do então tesoureiro do PT, Delúbio Soares.
Valério, no entanto, negou novamente que fazia caixa-dois para o “mensalão”, o susposto esquema de pagamento de mesadas a congressistas aliados do governo. O PT ainda não se pronunciou sobre as novas declarações do publicitário.
Na nota, o publicitário afirma que todas as transações foram feitas dentro da legalidade.
“Todos os pedidos de socorro financeiro feitos pelo senhor Delúbio Soares baseavam-se, de acordo com o próprio secretário do PT, na necessidade de saldar dívidas relacionadas a campanhas eleitorais”, informa a nota.
Tentativa de acordo
Também nesta sexta-feira, Valério propôs ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, passar informações para colaborar com as investigações em troca de benefícios em uma eventual ação penal.
O procurador, no entanto, recusou a proposta. No encontro, solicitado por Valério, o procurador-geral recebeu documentos e explicações sobre as empresas dele –DNA e SMPB.
A CPI dos Correios, criada para investigar denúncias de irregularidades na estatal, aprovou os requerimentos de quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de funcionários das empresas de Valério, das empresas e de seus sócios.
Valério também será reconvocado para prestar esclarecimentos sobre as informações que surgiram nas últimas semanas e à luz dos novos documentos que chegaram à comissão.