Os pré-candidatos à Presidência José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) desembarcam em Ribeirão Preto (SP) para visitar a Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação) e tentar atrair o apoio estratégico do setor do agronegócio para suas campanhas.
O agronegócio emprega cerca de 26 milhões de pessoas no Brasil, o que representa quase 30% da PEA (População Economicamente Ativa). O setor é responsável por aproximadamente 25% do PIB (Produto Interno Bruto, a soma de todas as riquezas produzidas pelo País). É organizado a ponto de ter uma bancada estimada em 266 deputados federais e senadores no Congresso para representar seus interesses. Seus empresários são tradicionalmente bons financiadores de campanha.
Ordens de grandeza que ajudam a entender a dimensão da necessidade do apoio do setor para a candidatura presidencial. Em 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não obteve o apoio do setor produtivo agropecuário e amargou derrotas em Estados cuja importância do setor é mais destacada: Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Também perdeu em São Paulo, onde a agricultura e a pecuária representam aproximadamente 30% da economia.
Tanto petistas quanto tucanos buscam interlocutores com boa aproximação com o setor. O PT convidou o ex-governador Blairo Maggi (PR-MT), um dos maiores produtores de soja do mundo, para integrar o seleto quadro de coordenadores de campanha de Dilma Rousseff. O convite já havia sido feito em fevereiro e recusado pelo ex-governador, que alegou a necessidade de se dedicar à própria campanha ao Senado. A oferta da vaga foi refeita recentemente. Se Maggi não aceitar, deverá ajudar a montar o programa de governo petista para o setor.
Este poderio faz com que o setor se organize de maneira a ter mais representantes no Congresso Nacional e tente retirar dos presidenciáveis compromissos firmados. Tanto a petista quanto o tucano devem assinar um protocolo de intenções com o setor, intermediado pela FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
O presidente da Agrishow, Cesário Ramalho, diz que os agricultores precisam ser mais ordenados, organizados e coesos para poder impor sua pauta aos presidenciáveis. “Inclusive para eleger corretamente os representantes do setor, fazer campanha para essas pessoas, independente de partidos políticos. Estamos trabalhando para isso já nesta eleição.”
“A agricultura brasileira ainda não tem a importância política correspondente a sua importância econômica, diferentemente do que acontece em outros países”, afirma Flávio Viegas, presidente da Associtrus (Associação Brasileira dos Citricultores). “Enquanto não houver pressão da sociedade, não vamos mudar essa situação em que o empresário é punido e o capital especulativo é sempre beneficiado. Temos que ter isonomia, combater as forças ocultas e sermos ouvidos”, diz o presidente da Abimaq (Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos), Luiz Aubert.
Outro envolvido com as negociações junto ao setor é o ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho. Além de ter bom trânsito com o empresariado em geral, Palocci circula muito bem na área sucroalcooleira, principalmente em Ribeirão Preto, sua base eleitoral no Estado de São Paulo.
Um dos coordenadores da campanha de José Serra é o agrônomo Francisco Graziano, ex-secretário estadual de Agricultura. Ele tem visitado Estados e recolhido sugestões para incorporar ao programa de governo tucano. Quem está em alta com José Serra é o atual secretário estadual de Agricultura, o ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), João Sampaio de Almeida. São os papers dele que estão abastecendo o ex-governador José Serra com dados do setor.
Um dos nomes que estava sendo cotado para ser vice na chapa de Serra era o da senadora Kátia Abreu (DEM-TO), que acumula ainda o cargo de presidente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura). Ela, porém, já foi avisada de que essa hipótese é improvável. Primeiro porque seu Estado de origem não agrega muitos votos a uma chapa presidencial. E depois porque os tucanos acreditam que a interlocução com o agronegócio já está sendo bem conduzida.
Serra e Dilma deram declarações públicas reconhecendo a necessidade de praticar taxas de juros mais baixas a fim de estimular a produção, de elevar os gastos públicos com obras de infra-estrutura para diminuir os custos principalmente de frete e sobre a necessidade de reformar o Código Florestal e simplificar a emissão de licenças ambientais.
O tucano ainda defende uma securitização ampla da produção agrícola e regras rígidas que assegurem o direito privado à propriedade _ reivindicações antigas do setor. Já Dilma Rousseff é reconhecida pelo agronegócio por sua política de ajuda a consolidar grandes conglomerados do setor, aumentando o poder competitivo global, e por levar adiante uma pauta de incremento a produção, mesmo tendo comprado brigas com o setor ambientalista por causa disso.
Contra Dilma, ainda pesam os desgostos expressos por parte do setor: o desequilíbrio da taxa de câmbio, que onera a produção e retira poder de competitividade das commodities brasileiras; a carga tributária alta; a falta de investimentos em estradas, portos e ferrovias; as taxas de juros elevadas e, na visão dos produtores, uma certa permissividade com os invasores de terras.
Por outro lado, contam a seu favor os números de aumento da safra, da elevação da lucratividade do setor, da venda de máquinas e da expansão de área plantada.