Considerada como uma das meninas dos olhos da presidente Dilma Rousseff (PT) para solucionar o grande gargalo do escoamento da produção agrícola do Centro-Oeste do Brasil, onde se encontra a maior parte da produção do agronegócio, a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico), que cortará o Brasil no sentido horizontal, interligando com outras malhas ferroviárias como a Norte Sul e futuramente e Ferrovia Vicente Vuolo, voltou à estaca zero por causa das irregularidades encontradas no Ministério dos Transportes e na Valec, estatal do governo federal que trata das ferrovias.
Essas irregularidades e denúncias levaram à queda do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, do então presidente da Valec, José Francisco das Neves, e do diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit), Luiz Antônio Pagot, além de outros envolvidos e que passaram a ser chamadas de faxina geral.
Por recomendação da Controladoria Geral da União (CGU), o processo de licitação que estava em vias de ser concluído voltará agora a ser totalmente refeito para evitar que pesem dúvidas quanto à lisura do mesmo. Segundo técnicos em licitação pública, uma obra da envergadura da Fico, que estava estimada em R$ 6,4 bilhões, – sendo que deste total R$ 4,1 bilhões representam obras em território mato-grossense – leva em média de dois a cinco anos apenas para se planejar, preparar, fazer os levantamentos necessários para então se colocar em prática a licitação e o edital em praça pública.
O assunto deverá ser oficialmente comunicado ao governo do Estado de Mato Grosso ainda nesta semana, sendo que primeiro o mesmo será levado ao conhecimento da presidente da República, pois se trata de uma das grandes obras do PAC Transporte que prevê a integração de todo o país por vários modais, rodoviários, ferroviários e hidroviários.
A Fico deveria interligar Rondônia a Mato Grosso e a Goiás. Com 1,638 mil km de extensão, a Fico sairia de Vilhena (RO) a Campinorte (GO), passando por Lucas do Rio Verde, entre outros municípios de Mato Grosso que seriam cortados em sua extensão territorial, mas com certa distância das sedes dos municípios. Em Mato Grosso, a Fico iria passar pelos municípios de Água Boa, Gaúcha do Norte e Nova Ubiratã.
A estimativa prevista era do transporte anual de 20 milhões de toneladas de grãos, minérios e combustíveis, como etanol produzido aqui em larga escala, mas com dificuldades de chegar nos grandes centros consumidores do Sul e Sudeste por causa do frete rodoviário que encarece o preço final dos produtos.
O modal de transporte ferroviário se tornou prioridade do governo federal justamente por agregar valor aos produtos do agronegócio e diminuir uma média de 30% no custo final da produção agrícola. A alta produtividade em Mato Grosso, torna os produtos de excelente mercado internacional, mas perdem competitividade por causa do custo do frete que é excessivo, já que na média dos grandes países o transporte é feito 10% por rodovias, 50% por ferrovias e 40% por hidrovias. Já no Brasil, 70% do transporte da produção são feitos por rodovias, em sua grande maioria em péssima qualidade e que oneram o preço final do produto.
A possibilidade da Fico não sair do papel pode atrasar os planos de Mato Grosso se tornar independente da produção agrícola, justamente agora quando o governador Silval Barbosa tenta convencer investidores chineses a construir uma outra ferrovia no Estado.