A postura do presidente da Comissão de Serviços de Infra-Estrutura do Senado Federal, Marconi Perillo (PSDB-GO) já começa a suscitar dúvidas sobre o encaminhamento real a ser dada a indicação do economista Luís Antônio Pagot para a direção-geral do Departamento Nacional de Infra-Estrutura Terrestre (Dnit). O cancelamento repentino da sabatina programada para esta quinta-feira, atribuída a possibilidade de falta de quorum, está sendo também creditada a uma manobra do senador para tentar manter Mauro Barbosa da Silva no órgão. Mauro é de Goiás e assumiu o cargo no final de 2005. “Ele está sendo pressionado” – disse uma alta fonte.
Há, no entanto, mais dois componentes que vêm “segurando” a homologação. Boa parte da animosidade dos senadores que integram a Comissão de Infra-Estrutura estaria no fato de que o indicado do presidente Lula evitou tratar de eventuais interesse por obras em bases eleitorais. Pagot teria dito que vai tratar o cronograma de investimentos do Dnit de acordo com as necessidades, baseadas em benefícios econômicos e sociais. Muitos senadores torceram o nariz por causa disso. Pagot, no entanto, tenta mostrar que tem o mais importante para o cargo: conhecimento sobre logística.
Além da barganha, Pagot aglutina contra sua homologação a questão política. Leia-se, a ação oposicionista do PSDB. Todos admitem que os tucanos sejam fortes na Comissão de Infra-Estrutura. Estimulados pelo ex-senador Antero de Barros, acusado de “fomentar” denúncias contra Pagot, os senadores do PSDB fecharam questão e, ainda, tentam de alguma forma contaminar a indicação. Se não conseguiram, pelo menos, segundo essa fonte, as acusações de duplicidade de função e de que teria beneficiado uma empreiteira quando era secretário de Infra-Estrutura do Governo vêm sendo usadas como justificativas para atravancar o processo.
Aliás, o fato de ter sido assessor de Jonas Pinheiro e diretor da Hermasa Navegações, empresa do Grupo André Maggi, renderam ameaças. Entre os senadores chegou a ser aventada a possibilidade de levar Jonas Pinheiro para a Comissão de Ética. A bancada do PSDB cobra a devolução dos salários que o economista recebeu como assessor. Apesar de ser suplente, o senador Mário Couto (PSDB-PA) assumiu a condição de “coordenador” da bancada do PSDB para tentar evitar a indicação de Pagot. “A bancada do PSDB, por mim representada neste ato, entende que há evidentes impedimentos à argüição do indicado em razão dos fatos que comprovam a quebra de decoro em sua conduta quando servidor público, além das pendências oriundas desse ilícito quanto ao ressarcimento aos cofres públicos dos valores percebidos indevidamente”, aponta o senador
Tão logo souberam do adiamento, os senadores mato-grossenses Jonas Pinheiro, Jaime Campos e Serys Marli chamaram Luis Antônio Pagot para uma reunião a portas fechadas. Eles discutiram o que pode ter acontecido, se foi mesmo a falta de quorum que levou o senador Marconi Perillo (PSDB-GO) a adiar a sabatina. Mais tarde, o governador Blairo Maggi teria conversado por telefone com o senador de Goiás. Perillo garantiu a Maggi que colocaria a votação para a primeira sessão de agosto e ainda levaria o processo a plenário no mesmo dia. Tido na lista como um dos indefinidos, o senador goiano ainda declarou ao governador que votará pela homologação.
Os votos certos são dos senadores que integram o bloco de apoio ao Governo, formado pelo PT, PR, PSB, PCdoB, PRB, PP e PTB. São eles: Serys Marli (PT-MT), Delcidio Amaral (PT-MS), Ideli Salvatti (PT-SP), Fernando Collor (PTB-AL) e Expedito Júnior (PR-RO). Também entre os aliados do Governo na indicação está o senador Valdir Raupp (PMDB-RO). Outro peemedebista que deve votar com o Governo é Wellington Salgado, de Minas Gerais. Dos cinco votos da bancada do DEM, três já estão assegurados. São eles: Adelmar Santana, do Distrito Federal; Heráclito Fortes, do Piauí; e o próprio Jayme Campos, de Mato Grosso, totalizando 10 votos. Com Perillo, já são 11 votos garantidos.
O Dnit é possivelmente o órgão do Governo mais cobiçado: dos aliados do Governo, todos querem ocupar o posto, sinônimo de poder e muitas verbas; da oposição porque quanto pior for a execução, melhor – embora seja o tipo da política ruim para todos, embora faça parte do jogo. Há muita complexidade e o interesse regional acaba também prevalecendo. Até aqui, o Dnit ficou mais tempo nas mãos da bancada dos mineiros, já que o Estado tem a maior malha viária federal do pais; conseqüentemente, as maiores empreiteiras. As ferrovias, como a Norte-Sul, também passam pelo controle de execução do Dnit, além de docas e portos e navegação fluvial.