Pouco antes de embarcar de volta à Roma, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, o papa Bento XVI agradeceu as autoridades brasileiras pelo que chamou de “provas de delicadeza” que a ele foram dispensadas durante os cinco dias de visita ao Brasil.
egundo Bento XVI, as horas vividas por ele no Brasil foram intensas e inesquecíveis. “Na minha memória ficarão para sempre gravadas as manifestações de entusiasmo e de profunda piedade deste povo generoso. Peço a Deus que ajude os responsáveis, seja no âmbito religioso e no civil a imprimir um passo decidido àquelas iniciativas, que todos esperam, pelo bem comum da grande família latino-americana”.
Ele agradeceu ainda aos membros da igreja católica que o acompanharam durante a visita, dizendo que todos contribuíram para abrilhantar a presença dele no país e às autoridades consulares, que segundo ele, foram responsáveis por facilitar a participação dele e de todas as outras nações nesta viagem classificada por ele como “dias de reflexão, oração e compromisso pelo bem comum dos participantes deste grande evento”.
O papa Bento XVI chegou ao Brasil no dia 9 e ficou hospedado em São Paulo, no Mosteiro de São Bento. Recebeu o presidente Lula no dia 10, após uma missa em caráter privado na capela do mosteiro. Também teve um encontro com representantes de outras religiões e um almoço com representantes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). De noite, participou de encontro com jovens no estádio do Pacaembu.
O papa Bento XVI voltou a defender hoje (13), pouco antes de embarcar de volta para o Vaticano, o afastamento da igreja católica latina-americana da política. Em seu pronunciamento durante abertura da 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho, Bento disse que caso a igreja se torne um sujeito político, correrá o risco de perder sua autoridade moral e independência.
“O trabalho político não é competência imediata da igreja. Se a igreja começar a transformar-se diretamente em sujeito político, não faria mais pelos pobres e pela justiça, senão faria menos, porque perderia sua independência e sua autoridade moral, identificando-se com uma única via política e com posições parciais opinativas. A igreja é advogada da justiça e dos pobres precisamente ao não se identificar com os políticos nem com os interesses de partidos”, disse em pronunciamento lido em espanhol.
Essa foi a segunda vez que o papa criticou publicamente a relação igreja e política na América Latina nesta visita ao Brasil. Antes, no sermão proferido durante a manhã, na missa campal, celebrada no pátio da catedral de Aparecida, o papa disse que a fé não poderia ser confundida com ideologia política, movimento social ou sistema econômico.
A conferência dos bispos é um dos principais encontros políticos dos católicos na América Latina e serve de parâmetro para o comportamento da igreja nos próximos anos. O pronunciamento do papa na abertura baliza as discussões dos bispos, que seguirão até próximo dia 31.
Em seu discurso na abertura da conferência dos bispos, Bento ainda defendeu que a igreja preserve – e “purifique, se necessário” –, o “mosaico religioso popular” da América Latina, desde que assentado no cristianismo católico. Ele disse que voltar a dar vida às religiões pré-colombianas seria um retrocesso.
“A utopia de voltar a dar vida às religiões pré-colombianas, separando-as de cristo e da igreja universal, não seria um progresso, mas sim um retrocesso. A sabedoria dos povos originais os levou afortunadamente a formar uma síntese entre suas culturas e a fé cristã que os missionários os ofereciam. Dali nasceu uma rica e profunda religiosidade popular, na qual aparece a alma dos povos latino-americanos (…) Tudo isso forma um grande mosaico de religiosidade popular que é um precioso tesouro da igreja católica na América Latina e que ela deve proteger, promover e se for necessário, purificar”, disse.
O líder da igreja católica considerou que a América Latina tem evoluído com relação à democracia, ainda que, segundo ele, “haja motivos de preocupação diante de formas de governo autoritárias, que acreditamos ultrapassadas”.
Bento XVI desferiu críticas a governos neoliberais. “Por outro lado, a economia neoliberal de alguns países latinos americanos tem de considerar a igualdade, pois seguem aumentando os setores sociais que se vêem desafiados cada vez mais por uma enorme pobreza (…) e ainda espoliados dos próprios bens naturais”.