Ex-diretor-geral do Departamento Nacional de In- fraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antônio Pagot (sem partido-MT), mira seu ataque diretamente sobre o Palácio do Planalto, que tem à frente a presidente Dilma Rousseff (PT). Em entrevista para A Gazeta, acusa o Planalto de orquestrar um complô contra ele. Motivo: sua negativa em colaborar "da forma esperada" para esquema de doações de campanha, em 2010, com benefícios para o PT, através de empreiteiras ligadas a autarquia vinculada ao Ministério dos Transportes. Em tom de desabafo, Pagot demonstra extrema indignação por não ser chamado para depor na CPMI que investiga o bicheiro Car- los Cachoeira, no Congresso Nacional. E avisa: "No Palácio, não vão mais fazer gozação comigo. Então tá na hora de chutar o pau da barraca".
Pagot preferiu não mencionar possível conhecimento do suposto complô pela presidente da República, mas também não descartou. "Estou me referindo ao Palácio do Planalto", frisou ao se posicionar como vítima. "Ficou provado, sedimentado um complô. Fizeram uma safadeza comigo", disse irritado ao destacar que "montaram uma quadrilha engenhosa", que segundo ele, continua em ampla atuação.
O ex-diretor concedeu a entrevista no final da noite de sexta-feira, após publicação pela Revista Isto É, de circulação nacional, de reportagem em que revelou mais detalhes do que classifica de manobras que levaram à sua queda do comando do Dnit. Colocou, desta vez, no centro das pontuações o PSDB e o PT, partidos que por meio de seus enviados à autarquia exigiam remessa de recursos via empreiteiras, para caixa de campanha. Ele assumiu ter feito alguns pedidos, mas na sua opinião, dentro da ordem legal.
"Tinha cerca de 300 empreiteiras ligadas ao Dnit e acho que menos de 20 ajudaram", disse se referindo ao reduzido quadro de colaboradoras. Vale ressaltar que a legislação eleitoral permite o ato de doar dinheiro para campanha de candidatos, incluindo-se aí pessoas jurídicas (empresas) e pessoa física, o cidadão comum. O problema é que já ficou provado que se por um lado se "ajuda", do outro, também se "cobra". É comum ser aberto caminho para empresas que participaram como doadoras, para assegurar contratos com órgãos públicos. É nesse panorama que surge a empreiteira Delta, alvo da CPMI, que teve os contratos "expandidos" principalmente em 2011, com ramificações na maioria dos estados brasileiros.
O "complô" teria vários braços. "Uma empreiteira com contratos que envolvem deputados federais do meu partido e com participação do Palácio do Planalto. Trabalhei muito pelo país, e o que recebo de troco? Essa patifaria", disparou.
Pagot provoca seu chamamento à CPMI e coloca em dúvida os resultados. Quer ser ouvido e afirma estratégia montada no Congresso para barrar suas revelações. Trava luta para prestar os esclarecimentos e acrescenta: "não irá conviver com isso sem poder falar o que sabe". Novas declarações podem chegar ao governo federal, atingindo de cheio a cúpula do PT, partido de Dilma Rousseff. "Se eu tiver alguma dívida, que ro pagar, mas me deixem falar".