Mato Grosso está na mira do novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. Mato Grosso e o seu governador, Blairo Maggi, maior plantador individual de soja do mundo. “Se deixar, ele planta soja até nos Andes” – disse o ministro, ao desembarcar em Paris, pouco antes de aceitar o convite do presidente Lula para ocupar a vaga deixada pela senadora Marina Silva (PT-AC). Minc acabou externando os primeiros pontos de vista sobre a forma como pretende conduzir a política ambiental. O novo ministro é amigo pessoal de Marina Silva.
Descolado, Minc tem uma idéia fixa sobre Maggi: “Você pega o governador do Mato Grosso, ele próprio o maior produtor de soja do mundo, com a Polícia na mão dele e se deixar ele planta soja até nos Andes, então não é mole”. Ou seja: o governador e o território mato-grossense, portanto, deverão ter atenção redobrada por parte da ala ambiental do Governo.
A declaração do novo ministro representa, a princípio, uma demonstração de que as pressões sobre o controle do desmatamento deverão continuar. Talvez até com mais rigidez. Atualmente, Mato Grosso enfrenta um duro “embargo econômico” traçado pelo Decreto 6.321/2007. Ao todo, 19 cidades da região Norte do Estado, estão praticamente com suas atividades florestais paralisadas por conta da “Operação Arco de Fogo”, deflagrada a partir de dados sobre o índice de devastação da Amazônia, apresentado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Maggi foi apontado como um dos personagens responsáveis pelo pedido de demissão da ministra Marina – tida na comunidade internacional como ícone na defesa do meio ambiente. O senador Expedito Júnior (PR-RO) revelou que o governador, ao lado de Ivo Cassol, de Rondônia, foram implacáveis com a ministra. Os dois, segundo palavras do senador, Maggi e Cassol “descascaram a ministra” e a forma como o Ministério do Meio Ambiente conduz a política governamental para o setor. Na reunião, Lula elegeu o ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, para conduzir o Plano Amazônia Sustentável – o que teria desgostado a então ministra.
A tese da participação de Maggi foi reforçada pelo Greenpeace. Segundo Sérgio Leitão, diretor de Políticas Públicas da organização não-governamental (ONG), Marina saiu em razão de pressões do governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, pela revogação das novas normas que condicionam a concessão de financiamento agrícola ao cumprimento de critérios ambientais. As regras para crédito agrícola foram aprovadas em fevereiro pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e já valem para a safra 2008/2009, que começa em julho. “Isso começou a impactar quem desmatava, as pressões aumentaram e foram aceitas pelo Palácio do Planalto e pela Casa Civil”, afirmou Sérgio Leitão.
O governador de Mato Grosso, no entanto, continua negando que tivesse pressionado pela demissão de Marina Silva “Não há fundamento nesta afirmativa” – disse o secretário de Comunicação, José Carlos Dias. Segundo ele, o governador Blairo Maggi foi surpreendido com a saída da ministra e não se manifestou sobre o assunto. Porta-vozes palacianos chegaram a considerar que as divergências entre Maggi e Marina foram fundamentais para o desenvolvimento da política ambiental para a região.
O embate com o novo ministro do Meio Ambiente promete. Por onde tem passado, o governado tem firmado posição no que ele chama de perseguição contra Mato Grosso e discriminação a produção agrícola. Ele diz que Estado é “o primeiro lugar do mundo a ser perseguido por produzir” alimentos, contrariando toda a ótica mundial. “Há um preconceito muito grande contra a produção agrícola” – diz o chefe do Executivo. Maggi tem deixado transparecer que o Governo brasileiro vem cedendo às pressões internacionais e provocando grande desconforto econômico e social no Estado.