O nome do deputado federal Pedro Henry (PP) aparece na relação dos 156 políticos brasileiros que teriam sido beneficiado com o esquema de “Caixa 2” eleitoral, comandado a partir de Furnas Centrais Elétricas. A denúncia, constituída de uma relação elaborada pelo ex-diretor Dimas Toledo, revela a distribuição de R$ 40 milhões aos políticos da base de sustentação do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Henry teria se beneficiado de R$ 100 mil. O “listão de Furnas” vem sendo fortemente questionado quanto a sua autenticidade, embora o deputado federal cassado, Roberto Jefferson (RJ) tenha confirmado que recebeu R$ 75 mil.
As contribuições teriam partido de 88 empresas, clientes e fornecedores de Furnas. O nome de Henry aparece entre os que receberam verbas através de uma dessas empresas, via Odebrech, Andrade Gutierrez, OAS, Camargo Correa ou Engevix. O documento em que se baseia a investigação tem a assinatura do ex-diretor de Furnas com firma reconhecida no Cartório do Primeiro Ofício de Notas do Rio. A autenticidade da assinatura e do registro, com data de 22 de setembro de 2005 foram atestadas em perícia preliminar.
Contudo, ainda carece de muitas explicações. O dossiê foi sistematizado por Luiz Fernando Carceroni, ex-diretor da diretor de Controle Urbano da Administração Regional Centro-Sul da Prefeitura de Belo Horizonte e membro do Partido dos Trabalhadores. Chegou a ser coordenador do Procon indicado pelo partido. Carceroni observa que Dimas Toledo é relacionado com o governador Aécio Neves, mas não relaciona a amizade com Fernando Pimentel, prefeito de Belo Horizonte. Dimas permaneceu na diretoria de Furnas no Governo Lula após pressão do governador Aécio Neves, numa disputa contra o Itamar Franco, que queria o controle da estatal. “Dimas é conhecido pelas suas relações com as empreiteiras. Ele ocupou, por anos, a diretoria de obras de Furnas e há muito é tido como arrecadador de recursos financeiros nas eleições” – sustenta.
Carceroni observa que o relatório assinado por Dimas apareceu das mãos de Nilton Monteiro, conhecido lobista mineiro. “Por duas vezes ele já mostrou que os documentos que consegue são sólidos. Foi o autor, em 2001, de acusações documentadas de irregularidades no governo do Estado do Espírito Santo, então sob controle do PSDB” – frisa o petista. No caso Furnas, acrescenta Carceroni, Monteiro mostrou o original do relatório, com firma reconhecida, a duas pessoas e forneceu uma cópia do relatório e da perícia feita por Eduardo Molina de Figueiredo, do Laboratório de Perícias. Contudo, Monteiro é considerado pelos mineiros como “notório falsário condenado pela Justiça no Espírito Santo e com 12 processos nas costas em Minas”.
A autenticidade do documento, tarjado como “confidencial” e cuja origem ainda é discutível, só deverá ter um desfecho adequado quando Dimas Toledo prestar depoimento à Polícia Federal, que está investigando o caso. O ex-diretor de Furnas têm sido assediado desde a divulgação do relatório, mas tem evitado a imprensa. Dimas deixou a direção de Furnas em agosto, depois que Roberto Jefferson, ainda deputado em ataque, acusou a direção da empresa de operar o esquema do “mensalão”.
Jefferson foi cassado por admitir ter recebido R$ 4 milhões do PT através de Marcos Valério e por denúncias infundadas sobre a existência do esquema mensal de pagamento de deputados para votar projetos de interesse do Governo. Incendiário, o ex-parlamentar apontou o nome de Pedro Henry como um dos supostos beneficiários do esquema. Investigado pela Comissão de Ética, o processo contra o político mato-grossense se arrasta por falta de provas. O relator Orlando Fantazzini (PSOL-SP) evita falar de prazo. Porém, o presidente do Conselho de Ética, deputado Ricardo Izar (PTB-SP), informou que, até o fim da convocação extraordinária, será concluída a instrução probatória de mais três processos, contra os deputados João Magno (PT-MG), João Paulo Cunha (PT-SP) e Pedro Henry (PP-MT).