Um dia antes de completar um ano preso em Cuiabá sob acusação de chefiar uma organização criminosa que cobrava propina de empresários, o ex-governador Silval Barbosa (PMDB) comentou sobre sua prisão preventiva, as acusações que pesam contra ele, os pedidos de liberdade que seus advogados têm impetrado em várias instâncias do Judiciário e rechaçou qualquer hipótese de ter contas secretas no exterior para guardar dinheiro oriundo de propina.
Ao falar com jornalistas enquanto acompanhava uma audiência de instrução e julgamento de uma ação penal, o ex-chefe do Executivo Estadual fez um desabafo e afirmou que, ao contrário do ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ele não possui contas no exterior. Revelou ainda que perdeu dinheiro depois que entrou na política, mas que ele não se arrepende de nada.
As declarações foram numa entrevista de 10 minutos foram feitas na sala de audiências da 7ª Vara Criminal, no Fórum de Cuiabá. “Minha renda, diminuiu depois que entrei na política. Foram anos a vida pública”, disse Silval, que citou também o caso do prefeito de Cuiabá, Mauro Mendes (PSB), que lançou mão recuperação judicial, em outubro de 2015, anunciando que seu grupo empresarial estava endividado em mais de R$ 100 milhões. “O Mauro também perdeu pra mim ele diminuiu a renda. Mas cada um faz o que gosta. Fiz política com amor, eu gostava”, conta o ex-governador afirmando não existir arrependimentos.
Quanto às suspeitas do Ministério Público Estadual (MPE) de que ele possa ter contas no exterior, possivelmente para enviar dinheiro oriundo de corrupção. Silval Barbosa argumentou que a promotora de Justiça, Ana Cristina Bardusco da Silva, que atua nas ações penais oriundas da Operação Sodoma, estaria equivocada ao insistir que ele representa perigo e que pode fugir, caso ganhe liberdade.
“Infelizmente, a promotora Ana Bardusco deu parecer contrário dizendo que teme vou fugir daqui. Eu não vou fugir, se eu quisesse fugir podia bem ter fugido da primeira vez. Eu que me apresentei espontaneamente aqui pra doutora Selma. Quero responder pelos meus atos, é uma pena, é lamentável ela pensar isso ai. Eu tenho minha residência fixa, estou há quase 40 anos em Mato Grosso e constitui minha família aqui em Mato Grosso, tudo que tenho está aqui e não vou sair daqui. Sou mato-grossense, gosto de Mato Grosso e não vou sair daqui mesmo com essas suposições maldosas de que falam que ofereço perigo, que vou me afugentar do país. Há, ele pode ir usufruir dos benefícios de contas no exterior, eu já falei que não existe contas, aqui não é o Eduardo Cunha que falou e depois acharam. Não tenho conta corrente em lugar nenhum, nem em meu nome e nem no nome de ninguém. Essa é a pura verdade", desabafou Silval.
O ex-governador também comentou sobre as denúncias do Ministério Público contra ele que é acusado de participação nos esquemas de corrução como chefe de uma organização criminosa. “Infelizmente é uma carga enorme. Um monte de delatores e mentirosos confessos. E eu estou aqui preso sem poder ter condições maiores da minha própria defesa nesse um ano sofrendo recluso”.
O ex-governador reclamou de não ter acesso aos processos ao quais reponde. “Temos que recorrer e ver que possa subsidiar. Aqui é difícil, não tenho acesso a documentos e a nada. Já falei com a Vara de Execuções, para ter acesso a um computado e pen drive, sem internet, para que eu possa conhecer os documentos. Sem isso é humanamente impossível. Não precisa ser dentro, pode ser em uma sala de estudos que não tem mas cria-se uma”.
Silval disse crer que terá sua liberdade revogada na operação Seven, que investiga uma fraude de R$ 7 milhões no Estado.
Silval esteve no Fórum para acompanhar depoimentos das primeiras testemunhas de acusação e defesa arroladas pelo MPE e pelos réus na ação penal derivada da Operação Seven. Embora não precisasse estar presente, já que a maioria dos réus pediu dispensa de participar uma vez que seus advogados acompanham a audiência, o ex-governador preferiu acompanhar de perto as oitivas. Ele disse que tem alguns processos que ele prefere acompanhar pessoalmente.