Na decisão que autorizou a abertura de uma ação penal em decorrência da 4ª fase da operação Sodoma, a juíza da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, Selma Arruda, cita um dos trechos da denúncia criminal oferecida pelo Ministério Público Estadual (MPE) de que o ex-secretário de Estado, Pedro Nadaf, é suspeito de lavar dinheiro por meio da compra de barras de ouro adquiridas em municípios do interior de Mato Grosso e servia para atender aos seus próprios interesses e também de empresários aliados de seu grupo político. Um dos parceiros estratégicos de Nadaf para a aquisição de barras de ouro por meio de lavagem de dinheiro era o amigo de infância e ex-presidente da Companhia Mato-grossense de Mineração (Metamat), João Justino Paes de Barros.
“Quanto à lavagem do dinheiro recebido a título de propina João Justino Paes de Barros, ora colaborador, declarou que Pedro Nadaf, entregou-lhe em espécie o valor de R$ 150 mil, que correspondeu à compra de 1,5 kg de ouro e que na última vez lhe foi entregue o valor de R$ 500 mil, levando à compra de cerca de 8 kg de ouro, acreditando ter trazido no total cerca de 15 kg de ouro, que comumente era entregue ao Pedro Nadaf, mas em algumas oportunidades chegou a entregar pessoalmente ao próprio Marcel de Cursi”, diz um dos trechos da decisão.
Ainda foi revelado que João Justino costumava viajar pelo interior de Mato Grosso enquanto presidente da Metamat e costumava adquirir ouro no município de Peixoto de Azevedo e posteriormente entregar a Pedro Nadaf que pagava em espécie pela aquisição das barras.
“Esclareceu João Justino que realizava viagens ao interior do Estado com certa frequência, em razão das funções que exercia enquanto presidente da Metamat, sendo que nas oportunidades em que se dirigia à cidade de Peixoto de Azevedo–MT comprava ouro com deságio de 30% (trinta por cento), fato que foi levado ao conhecimento de Pedro Nadaf pelo próprio João Justino, que passou a lhe pedir a compra desse ouro, pagando sempre em espécie”.
Em um depoimento dado em caráter de confissão à Justiça, Nadaf revelou que o empresário Filinto Müller Coutinho lhe entregou a quantia de R$ 1 milhão. Deste valor R$ 750 mil seria a parte correspondente a sua propina e outros R$ 250 mil pertencentes ao ex-secretário de Estado de Fazenda, Marcel de Cursi.
O dinheiro seria resultado do desvio de R$ 15,8 milhões dos cofres públicos concretizado por meio de uma fraude no pagamento de desapropriação do terreno do bairro Jardim Liberdade I localizado em Cuiabá.
A partir daí, atendendo pedido de Marcel de Cursi, Nadaf entregou a quantia de R$ 250 mil ao ex-presidente da Metamat, João Justino Malheiros, para que fosse providenciada a compra de dez quilos de barras de ouro.
No final de 2014, Nadaf entregou pessoalmente as barras de ouro a Marcel de Cursi.
Na colaboração premiada firmada com o Ministério Público, João Justino revelou que comprava ouro com dinheiro de propina com certa frequência para atender interesses de Pedro Nadaf.
“João Justino Paes de Barros, ora colaborador, reconheceu que Pedro Nadaf, seu amigo de infância, lhe solicitou por 5 (cinco) vezes, durante o ano de 2014, que efetuasse a compra de ouro, ocasiões em que Pedro Nadaf informava que o ouro comprado era repassado para um grupo de empresários que representava e ao Marcel de Cursi”, diz um dos trechos.
O Ministério Público sustenta que a compra de ouro e metais preciosos é uma modalidade muito utilizada para a lavagem de dinheiro, normalmente em aquisições clandestinas, como a realizada, sem a expedição de documento fiscal que no caso de Ativo Financeiro é a Nota de Negociação de Ouro (NNO) e a Nota de Remessa de Ouro (NFRO).
(Atualizada às 08:28h em 8/11)