A fundamentação da denúncia oferecida do Ministério Público Estadual contra o ex-governador Silval Barbosa, os ex-secretários estaduais Pedro Nadaf (Casa Civil), e Marcel de Cursi (Fazenda), aponta como funcionou o esquema de cobrança de propina por parte dos ex-secretários. O empresário João Batista Rosa teve uma reunião com Cursi, no dia 19 de agosto, nas dependências da empresa Tractor Parts, em Várzea Grande, para falar sobre o incentivo recebido via Prodeic.
“As transcrições dos conteúdos destas reuniões evidenciam a ação do grupo criminoso, oportunidade em que Pedro Nadaf e Marcel de Cursi confessam o recebimento da vantagem financeira indevida”, diz trecho da ação. Esta conversação ocorreu este ano em virtude da empresa estar sendo investigada pela concessão irregular do incentivo fiscal.
Em uma das conversas, o empresário disse ter falado com Nadaf e que Cursi (foto) iria auxiliá-lo a fazer a defesa da empresa, para manter o incentivo. No entanto, Nadaf disse que precisaria de um “dinheiro para ajudar o Marcel”. Em resposta, Cursi disse que recebeu R$ 5 mil de Nadaf e perguntou quanto o empresário havia repassado.
Rosa afirma ter entregue R$ 15 mil para Nadaf. “Eu dei R$ 15 mil para ele”, ao que Marcel responde que “ele me entregou R$ 5 mil”. O empresário volta a repetir que entregou R$ 15 mil e Cursi ri da situação.
Mais adiante, o empresário volta a dizer que falou para Nadaf que precisava que Cursi o ajudasse com a defesa. Em resposta, Marcel disse ao empresário que não precisava se preocupar com o dinheiro. “Dinheiro a gente se entende, assim eu estou mais preocupado em te ajudar, é assim, eu não vou jogar minha amizade com você no lixo, então é, por isso que estou aqui, estou preocupado com você, eu não quero deixar você em uma situação, nem que você me pague nada eu vou te ajudar, agora, evidentemente tem assim, tem um acordo lá no meu trabalho depois”, aponta exatamente o trecho da descrição na denúncia.
Em outro trecho da denúncia, “a organização criminosa no processo de intimidação do empresário não se restringiu a ação de seus membros, no caso específico lançou mão de terceiros, pessoas que mantinham relacionamento de amizade e/ou comercial com João Rosa, mandando-lhe recados de que seu telefone estava grampeado, que tinham conhecimento de seus contatos telefônicos, que tinham informação de que havia procurado o Ministério Público, insistindo na realização de encontros em locais diversos da sede da empresa do empresário, etc”.
João Rosa pagou R$ 2,6 milhões de propina para o grupo, que seria comandado por Nadaf. Este valor foi distribuído para várias pessoas da confiança de Nadaf em cheques da empresa de Rosa. A alegação de Nadaf seria a de que o valor seria para custear dívidas políticas contraídas durante a eleição para governo, em 2010. O empresário começou a ser cobrado em 2011 e como “benefício” recebeu incentivos fiscais para sua empresa de forma ilegal.
Conforme Só Notícias já informou, a Promotoria Criminal da Comarca de Cuiabá ofereceu denúncia contra o ex-governador Silval Barbosa, os ex-secretários estaduais Pedro Nadaf (Indústria e Comércio), e Marcel de Cursi (Fazenda), o ex-chefe de gabinete de Silval, Sílvio Cezar Corrêa Araújo, e também Francisco Andrade de Lima Filho e Karla Cecília de Oliveira Cintra. Caso seja aceito pela justiça, eles vão responder pelos crimes de constituição de organização criminosa, concussão, extorsão e lavagem de dinheiro.
Trechos das conversas gravadas pelo GAECO e da denúncia feita pelo MP ao Judiciário