O ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, já entregou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a carta em que pede afastamento do cargo.
No documento, ele afirma ser inocente e diz que seu dever é “empenhar todos os esforços” para se defender. “Não quero, entretanto, que um assunto alheio ao seu governo cause qualquer embaraço à sua gestão e à importante agenda que Vossa Excelência tem para o país”.
Ele deixa o cargo depois de o procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, encaminhar ao Supremo Tribunal Federal (STF) a denúncia contra 15 acusados de envolvimento no suposto esquema de arrecadação ilegal de dinheiro para campanha eleitoral em Minas Gerais. Walfrido é um dos acusados, junto com senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e o empresário Marcos Valério de Souza.
Na carta, o ministro diz ter recebido “com profunda indignação” a informação de que o procurador-geral da República o teria denunciado ao STF por um crime não cometido.
“Nem a Polícia Federal, nem o próprio Procurador deram-me o direito de prestar os esclarecimentos ao longo dos quase dez anos nos quais investigou-se esse assunto”, acrescenta.
Ele reforça, ainda, que se tivesse “um milímetro de dúvida” sobre sua biografia, jamais teria aceito o cargo de ministro de Relações Institucionais.
O procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, avalia como “comprovado” o envolvimento de Mares Guia. “Foi ele, por exemplo, quem formulou, ainda no início da campanha, o esboço contendo a estimativa de recursos que o processo eleitoral necessitaria”, diz Souza em sua denúncia. Segundo o procurador, mares Guia também era um dos responsáveis por indicar as pessoas que receberiam os recursos da campanha. “Ademais, tinha pleno conhecimento da engrenagem criminosa de financiamento de campanha”, afirma o procurador, concluindo que a decisão de implantar tal esquema coube aos integrantes da cúpula do estado de Minas Gerais e da campanha para reeleição: Mares Guia, Azeredo, Clésio Andrade (candidato a vice de Azeredo) e Cláudio Mourão (ex-secretário de Administração do Estado de Minas Gerais, que se afastou do cargo para assumir a coordenação financeira da campanha de Azeredo e Clésio Andrade).
De acordo com o procurador, a campanha foi financiada com desvio de recursos públicos e com empréstimos fictícios obtidos pelas empresas de Clésio Andrade, do publicitário Marcos Valério de Souza e de seus sócios Cristiano Paz e Ramon Hollerbach. Tais empréstimos seriam pagos com recursos públicos ou de empresas privadas “interessadas economicamente” no estado de Minas Gerais, após lavagem por meio de eventos esportivos.