O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes voltou a acusar o PT de retirar recursos públicos de forma ilícita da Petrobras para financiar o partido. "Eles avançaram sobre o dinheiro público, pois esse era o dinheiro da estatal", afirmou, na abertura do 4º Fórum Nacional de Agronegócios, realizado ontem, em Campinas (SP).
Instado a explicar o termo “cleptocracia”, que havia utilizado numa referência ao governo do PT, ele confirmou que em grego significa o poder nas mãos de ladrões. De acordo com Mendes, o termo lhe ocorreu durante a discussão sobre o financiamento de partidos políticos no Supremo. "Chamei a atenção, a partir do meu voto sobre a questão do financiamento dos partidos. O que vem se revelando na Lava Jato indica que era preciso verter recursos diretamente para o partido", disse.
Em entrevista ao portal R7, Mendes ainda afirmou que um terço dos recursos que eram tirados extraordinariamente dos contratos da Petrobras, segundo as delações, tinha de ir para o partido. “Isso significa que o patrimônio público pertence ao partido. Instalou-se uma forma de retirar recursos de uma forma ilícita. Isso tinha que ser denominado. O que é isso, é uma cleptocracia”.
Ao ser lembrado de que o PT pretende processá-lo pelos ataques ao partido, Mendes desdenhou. "Espero que não me imputem ter matado o Celso Daniel", referindo-se ao ex-prefeito de Santo André, do PT, assassinado em 2002 por supostamente ter se oposto a um esquema de corrupção na prefeitura.
Perguntado sobre a possibilidade jurídica do pedido de impeachment da presidente proposto pela oposição, ele disse que não iria emitir juízo, pois se trata de competência do Congresso. “Mas a gente percebe que tem de haver uma solução política para uma grave crise política”.
Sobre a decisão do STF de barrar doações de empresas para partidos políticos e candidatos, Mendes disse que não concorda, mas vai cumpri-la. Ele disse preferir o desgaste dos debates, inclusive entre os poderes, à "paz de cemitério".
Para o ministro, proibir a doação de empresas não impede a corrupção. "Já existe o dinheiro, o dinheiro de caixa dois que será distribuído por CPF. Estamos criando mais uma jabuticaba, criando algo que só existe no Brasil."
Perguntado se o Brasil voltou à era Collor, ex-presidente que sofreu impeachment, ele disse que são momentos diferentes. “Hoje o País está mais ativo, mas em termos de dimensão de escândalos é evidente que hoje é muito mais grave”.
Durante o evento, que teve a participação de lideranças do agronegócio, ex-ministros e parlamentares, Gilmar Mendes falou também sobre diversos temas, como o direito de propriedade, a questão dos quilombolas e a demarcação de terras indígenas.