Carlos Minc. Este é o nome que está tirando o sono dos produtores rurais mato-grossenses. Ele é o atual ministro do meio ambiente e motivo de muita dor de cabeça para os grandes do agronegócio do Estado, principalmente para o governador Blairo Maggi. As declarações de Minc causam um verdadeiro “rebuliço” por aqui. Com uma língua afiadíssima, Minc deve vir a Cuiabá ainda neste mês. Prometeu uma visita da espécie “fumar o cachimbo da paz” com o governador de Mato Grosso. Pode encontrar um clima hostil. Os produtores estão ansiosos pela visita e ensaiam colocar o ministro no “paredão”, questionando os dados e a política ante-desmatamento que ele vem desempenhando.
Logo que assumiu a pasta, o ministro, ex-guerrilheiro que chegou a ser preso e exilado por participar da luta armada durante a ditadura militar, mirou sua “metralhadora” para Mato Grosso e iniciou uma verdadeira guerra com Maggi. De cara o ministro ambientalista mostrou a que veio e anunciou, junto com o Conselho Monetário Nacional (CMN), novas normas para liberação do crédito rural. A notícia caiu como um bomba para os produtores.
O CMN baixou resolução que atrela os financiamentos do Banco do Brasil à regularidade ambiental das propriedades rurais. Estratégico, o governador ainda tenta derrubar a medida usando sua influencia com o presidente Lula. Para as principais entidades de classe que representam o agronegócio no estado, as conseqüências desse “ataque” podem ser drásticas. Segundo o presidente da comissão de meio ambiente da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), Ricardo Arioli, a safra 2008/09 está comprometida em função dessa resolução, pois a medida atinge 80% das propriedades. Minc ainda propôs ao CMN que estenda a medida para as áreas de cerrado e no Pantanal, em uma prova de que sua briga é mesmo com Mato Grosso.
E Carlos Minc disparou mais uma. Afirmou em meados do mês de maio que divulgaria novos dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que apontavam um aumento de 60% no desmatamento da Amazônia, e colocava mais uma vez Mato Grosso como o maior destruidor da floresta. Entrincheirado, Maggi articulou para que os dados não fossem divulgados. E o governador ganhou essa batalha e a divulgação foi adiada. Mas Minc mostrou sua força e conseguiu liberar os dados, que foram anunciados na última segunda-feira (2). Segundo o Inpe, a Amazônia perdeu 1.123 quilômetros quadrados de floresta durante o mês de abril. Nosso estado foi responsável pela derrubada de 794 quilômetros quadrados desse total. O secretário de meio ambiente do estado, Luis Henrique Daldegan, questionou os dados do Inpe e disse que a Sema vai fazer uma checagem dos novos dados.
E o ministro continua a disparar. Minc se mostrou preocupado com os novos dados e afirmou que o aumento do desmatamento na Amazônia Legal se deu em virtude do aumento preço da soja e do gado no mercado. Pensando nisso, o inimigo número um de Maggi já anunciou que a partir do dia 15 de julho os frigoríficos deverão informar ao Governo Federal a procedência de sua carne. Os que forem considerados irregulares, com bois criados em regiões ilegalmente desmatadas, denominados como “Boi Pirata”, terão a produção de gado apreendida.
O consultor da Famato, o economista Amado Oliveira, faz o alerta para as conseqüências da possível apreensão de bois e diz que a notícia pode ser considerada como uma das mais estapafúrdias dos últimos tempos. “Não existe legislação que permita isto. Ou existe? Este país é pródigo em criar leis! Não existe? Se a idéia for aprovada pelo presidente, existe o instrumento jurídico da Medida Provisória”, diz Amado em artigo publicado ontem no site da Famato. O economista ainda indaga: “Que gado será seqüestrado pelo governo federal? Está faltando boi gordo para o abate, razão pela qual o preço da arroba se elevou mesmo na entressafra, assim, como abater o boi pirata? Mas, o estrago está feito” – retruca o consultor.