O governador Mauro Mendes criticou o anúncio feito pelo governo federal que pretende isentar de pagar imposto de renda trabalhadores que ganham até R$ 5 mil. Para ele, a medida resultará em perdas de receitas para estados e municípios e, consequentemente, terá reflexos para toda a população, especialmente, pessoas de baixa renda. “Depois de um mês falando em corte de gasto, o primeiro anúncio foi um corte de receita”, afirmou o gestor estadual.
Ele também sinalizou que as medidas anunciadas já começaram a ter reflexos para a população, uma vez que agitaram o mercado financeiro, o que fez com o dólar chegasse, pela primeira vez, a R$ 6. É a maior cotação desde a criação do real.
“O juro alto beneficia quem? Quem vai pagar essa conta Brasil? Quem vai pagar a conta da inflação? O mercado já sinalizou que vamos ter 14% de juros ano que vem. O governo gasta mal, deve muito e as contas estão desequilibradas. Quando você deve muito e vai ao banco pedir um empréstimo, talvez não consiga ou, se conseguir, será com juros caros. O governo deve hoje R$ 6 trilhões. E quando o juro fica mais caro aí reflete no cheque especial, cartão de crédito, na conta da empresa, que vai repassar para os preços e vira inflação. O dólar está na gasolina, na passagem de ônibus, nos insumos agrícolas que vai para o preço dos alimentos. Um dólar alto vai trazer custo ao trabalhador”, avaliou Mendes.
Desde quarta-feira (27), quando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou as medidas, a moeda norte-americana tem acumulado recordes de alta. Os principais agentes do mercado financeiro esperavam um corte maior que os R$ 70 bilhões em dois anos e os R$ 327 bilhões em cinco anos propostos pelo Executivo, segundo avaliação do diretor-executivo do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI) e professor de economia licenciado da Universidade de Brasília (UnB), André Roncaglia.
“O mercado esperava um pacote de cortes e o que veio foi um pacote de contenção do crescimento dos gastos. O mercado ficou frustrado porque esperava um caminho mais austero no sentido de efetivamente reduzir a quantidade de dinheiro gasto no agregado pelo governo e o que o governo entregou foi diminuir o quanto vai aumentar o gasto”, explicou à Agência Brasil.
Para o economista Paulo Gala, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo (SP) e economista-chefe do Banco Master, além do corte ter sido mais tímido do que o mercado financeiro queria, os agentes entraram em “pânico” quando conheceram a proposta de isentar os trabalhadores que ganham até R$ 5 mil.
“O ajuste no arcabouço fiscal demorou quatro semanas e quando veio, veio junto com uma medida que pode onerar os cofres públicos em mais R$ 50 bilhões se nenhuma medida compensatória for feita. Ou seja, se misturou um pacote de isenção de tributação, que não estava no radar, e foi uma surpresa. Agora, fica o medo de que nem venha o corte de gastos e, se vier, ele seja compensado com corte de imposto”, destacou em uma rede social.
O governo federal sustenta que toda isenção de IR dos que ganham até R$ 5 mil será compensada com o aumento da tributação dos que ganham acima de R$ 50 mil. De acordo com o ministro da Fazenda, a reforma da renda será neutra, ou seja, não terá impacto sobre a arrecadação do governo. Após a alta do dólar desta sexta, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), veio a público afirmar que a isenção do IR dependerá das condições fiscais do país. “Só poderá acontecer se, e somente se, tivermos condições fiscais para isso. Se não tivermos, não vai acontecer”, disse o senador.
Para o economista André Roncaglia, essa foi uma reação defensiva dos principais agentes de ativos financeiros do mercado que temem ter que pagar mais impostos. “A mensagem foi mal recebida por parte do mercado financeiro que, de repente, estava pedindo corte de gastos e viu que vai ter que participar do ajuste por meio de um aumento na tributação sobre os rendimentos do topo da pirâmide. Os investidores acabam jogando contra o real, não porque eles querem jogar contra a moeda, mas porque é uma reação defensiva, já que eles não sabem para onde vai a política tributária”, explicou.