Lula recebeu nesta segunda-feira um clipping com notícias de jornal a respeito da disputa travada entre José Serra e Geraldo Alckmin em torno da vaga de candidato oficial do PSDB à presidência da República. Em diálogos reservados, Lula saboreou a desavença que sacode a seara alheia: “Isso é ótimo pra nós”, disse.
O presidente revelou-se surpreso com a pertinácia do governador Geraldo Alckmin. Avalia que, seja qual for o candidato do PSDB, a discórdia atingiu um nível tal, que o seu principal rival entrará na campanha de 2006 tendo de administrar a divisão das fileiras internas. Daí a sua impressão de que a quizila que se instalou no tucanato termina por favorecê-lo.
Nenhum dos interlocutores de Lula –foram pelo menos dois- animou-se a discordar de sua avaliação. Ao contrário. Ecoaram os argumentos do presidente, aditando impressões que os reforçam. A julgar pelos receios que passaram a assombrar a cúpula do PSDB, o tucanato também compartilha da mesma opinião.
Em conversas pessoais e em telefonemas dispados desde domingo, os líderes do PSDB mostram-se, também eles, surpresos com a tenacidade exibida por Alckmin nas últimas horas. O presidente da legenda, Tasso Jereissati, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso começam a temer pelo comprometimento da unidade partidária. Admitem que não será fácil impor a Alckmin o nome de José Serra, o tucano mais bem-posto nas pesquisas de opinião.
Caso Serra confirme a disposição de embrenhar-se na disputa, já cogitam a hipótese de estabelecer algum mecanismo formal de consulta ao partido. “Não podemos restringir uma decisão como essa a três pessoas”, disse FHC, pelo telefone, a um senador do PSDB. De sua parte, Alckmin diz duvidar que Serra troque a comodidade dos dois anos que lhe restam de mandato à frente da prefeitura de São Paulo por uma briga no voto com ele.
Acompanhados do governador Aécio Neves (Minas), FHC e Tasso almoçam nesta terça-feira com Alckmin. Vão ao Palácio dos Bandeirantes já sabendo o que os aguarda. Na noite passada, em conversa com o governador tucano da Paraíba, Cássio Cunha Lima, Alckmin reafirmou que dirá ao triunvirato que se arrogou a tarefa de escolher entre ele e Serra que a unidade do PSDB não será atingida à custa do sacrifício de sua candidatura.
Num esforço para dar às suas pretensões ares de fato consumado, Alckmin confirmou presença num jantar com os 54 deputados que compõem a bancada do PSDB na Câmara nesta terça-feira. Será na casa do deputado Eduardo Gomes (PSDB-TO), no Lago Norte, bairro chique de Brasília. “Já estou temperando o chuchu”, brincou Gomes, em conversa com o blog.
Em verdade, não haverá chuchu no repasto desta noite. Será servido um churrasco, temperado pelo discurso que o convidado prometeu fazer, anunciando os seus planos presidenciais. Alckmin mostra-se interessado em dar publicidade máxima ao evento. Em conversa com o anfitrião, disse que não faz restrição à presença de jornalistas.
Visibilidade, aliás, é algo que o governador irá perseguir em sua passagem por Brasília. Trará a tiracolo sua mulher, Lu Alckmin. Ela vai autografar, num shopping da Capital, o livro ‘Seis Lições de Solidariedade’. Assinada por Gabriel Chalita, o secretário de Educação de Alckmin, a obra narra “histórias da vida e obra social” da primeira-dama. O governador, obviamente, estará presente.
De resto, Alckmin tenta esticar sua permanência em Brasília até quarta ou quinta-feira. Articula uma segunda refeição –jantar ou almoço- com os 12 integrantes da bancada do PSDB no Senado. Quer arrastar para a mesa integrantes da Executiva Nacional do partido.
Este segundo encontro ainda não havia sido agendado porque nem todos os senadores confirmaram presença. Na reunião com os deputados, uma ou outra ausência tende a diluir-se na multidão de cinco dezenas de pessoas. Entre os senadores, qualquer defecção pode ser interpretada como aversão ao “convidado”. Um risco que Alckmin, a essa altura, não parece disposto a correr.