Lula decidiu jogar todo o peso do governo numa estratégia para tentar inviabilizar os trabalhos da CPI dos Bingos, apelidada no Planalto de comissão do Fim do Mundo. Convencido de que a CPI busca elementos que possam viabilizar o seu impeachment, o presidente decidiu agir.
O primeiro objetivo do governo é evitar a aprovação na CPI de novos requerimentos contrários aos seus interesses. O principal deles prevê a quebra de sigilo bancário do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto. Amigo de Lula, Okamotto pagou uma dívida do presidente com o PT no valor de R$ 29,4 mil.
Em depoimentos à própria CPI, Okamotto disse ter liquidado a dívida com recursos próprios, sacados de suas contas bancárias. A oposição suspeita que ele esteja mentindo. Aposta que o dinheiro saiu do valerioduto. Se verdadeira, a hipótese vincularia diretamente Lula com o caixa dois amealhado pela dupla Delúbio Soares/Marcos Valério.
Okamotto mandou recados preocupantes a Lula. Disse ter feito uma análise minuciosa de seus extratos bancários. E teria constatado que não há nos papéis saques em datas e valores coincidentes com o pagamento, em quatro parcelas, da dívida com o PT. A incongruência entre a versão oral de Okamotto e o registro dos seus extratos não chega a provar que o dinheiro que pagou a dívida saiu do valerioduto. Mas tonifica uma dúvida capaz de jogar gasolina na fogueira do impeachment, que, por ora, arde em chamas brandas.
O Planalto age para retirar da oposição seu principal trunfo na CPI: a maioria. Até aqui, o bloco oposicionista vem aprovando na comissão o que bem entende. Na briga pelo voto, o governo vinha conseguindo chegar, quando muito, ao empate. Conta com a simpatia parcial do senador Augusto Botelho (PDT-RR).
Em comportamento ciclotímico, Botelho vota ora com o governo ora com a oposição. Mas, em situações de empate, cabe ao presidente da CPI, Efraim Moraes (PFL-PB) o voto de minerva. E Efraim, oposicionista roxo, desempata invariavelmente contra o governo.
PSDB e PFL ruminam a suspeita de que o governo tenha cooptado outro senador integrante da CPI. Chama-se Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR). Ele, que sempre votou com a oposição, vem ajudando o governo nos últimos dias de um modo peculiar: ausentando-se das sessões. O fenômeno da ausência de Mozarildo voltou a se repetir nesta terça-feira.
Efraim pretendia pôr em votação justamente a quebra de sigilo de Okamotto. A providência, já adotada pela CPI, foi barrada por uma liminar do STF. Mas os dados bancários do amigo de Lula já chegaram à CPI. Estão guardados no cofre da comissão, num envelope lacrado. A idéia era aprovar de novo a quebra sigilo e abrir o envelope antes que Okamotto conseguisse obter nova liminar no Supremo.
Em diálogos que manteve com líderes da tropa oposicionista na CPI, Efraim informou que achou melhor cancelar a votação. Convenceu-se de que a oposição amargaria uma derrota. Viu-se forçado também a postergar a análise de outros requerimentos que o governo deseja evitar a todo custo. Prevêem a convocação de Jorge Mattoso, ex-presidente da Caixa Econômica, e de Daniel Goldberg, secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça.
Mattoso e Goldberg são personagens centrais do episódio que resultou na quebra ilegal do sigilo bancário de Francenildo dos Santos Costa. O Planalto receia especialmente o depoimento de Mattoso. Foi informado de que o ex-presidente da Caixa estaria atravessando uma fase de fragilidade emocional. Ele acha que, no episódio da violação do sigilo do caseiro, foram-lhe imputadas responsabilidades que não seriam suas.