Terminou, agora há pouco, o manifesto que reuniu cerca de duas mil pessoas, na Câmara de Lucas do Rio Verde, indignadas com a forma como foi conduzida a operação “Terra Prometida”, da Polícia Federal, na semana passada. Na reunião ficou decidido que se em dez dias os presos desta operação não forem colocados em liberdade, moradores, empresários e agricultores de Lucas do Rio Verde, Tapurah, Itanhangá, Nova Mutum e outros municípios da região vão bloquear a BR-163 por tempo indeterminado.
Todos que estavam no município de Lucas assinaram uma moção de repúdio contra a ação policial. Nos próximos dias, este documento será entregue nas sedes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e Superintendência da Polícia Federal, ambos em Cuiabá, além de outros órgãos que ainda serão definidos.
O vice-governador eleito, Carlos Fávaro (PP), esteve no manifesto e declarou apoio à causa. De acordo com ele, a questão fundiária está relacionada como prioridade no plano de governo de Pedro Taques (PDT). O projeto do novo governo é tentar regularizar o maior número possível de assentamentos. Fávaro disse que o primeiro a ser analisado será justamente o assentamento localizado no município de Itanhangá.
Os prefeitos de Sorriso, Dilceu Rossato; de Nova Mutum, Adriano Pivetta; de Ipiranga do Norte, Pedro Ferronatto; de Santa Carmem, Alessandro Nicoli, Vera, Nilso Vígolo, presidentes de câmaras municipais dentre outras lideranças estiveram também no manifesto, se disseram indignados e repudiaram a forma como se deu a operação com a prisão de pessoas que seriam inocentes.
O deputado federal Nilson Leitão (PSDB) não esteve no evento, mas mandou uma mensagem informando que no próximo sábado será realizada uma audiência pública, em Itanhangá, para tratar sobre o assunto. É aguardada a presença de representantes do Incra e do governo.
Durante a manifestação, foram penduradas faixas e cartazes na frente da câmara, com os dizeres “Somos trabalhadores e não bandidos”; “A população acredita no caráter dos produtores”; “Itanhangá – Não somos bandidos, somos trabalhadores”, entre outras. Eles estão expondo que não são contrários a investigação das denúncias, mas alegam que "há pessoas inocentes entre os que foram presos”.
O último boletim, divulgado hoje à tarde, pela superintendência da Polícia Federal, aponta que 34 pessoas foram presas entre políticos, fazendeiros e servidores públicos pela comercialização de áreas da reforma agrária na região de Itanhangá. "A Polícia Federal agora irá concentrar-se na análise dos depoimentos e materiais apreendidos, para que assim o inquérito seja relatado e encaminhado aos órgãos judicantes competentes", informa a assessoria.
O prejuízo aos cofres públicos pode alcançar R$ 1 bilhão. O governo deu terras para assentados que acabaram vendendo-as para fazendeiros e empresários. A investigação apurou eles procuravam obter uma verdadeira “reconcentração fundiária” de terras da União que haviam sido destinadas à reforma agrária. Com ações ardilosas, uso da força física e até de armas, compravam a baixo preço ou invadiam essas áreas.
Entre os que foram presos estão os irmãos Odacir e Milton Geller, que foram encaminhados ao Centro de Custódia de Cuiabá, no bairro Carumbé. Odacir reside em Lucas do Rio Verde e Milton (que foi prefeito de Tapurah), em Nova Mutum. O advogado deles Edy Piccini negou o envolvimento nas irregularidades e expôs que a empregada de Odair é a real exploradora da área. "Ela tem raízes no município e tem o terreno lá", declarou à Agência Estado, acrescentando que a as denúncias contra ambos tinha como objetivo "atingir o ministro". O ex-prefeito de Lucas, Marino Franz, também acabou preso. Em nota, a empresa que ele comanda, a Fiagril, negou com veemência as acusações. A Polícia Federal informou que o ministro Neri Geller não foi investigado na operação “Terra Prometida”.
(Atualizada às 19:27hs)