O governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, é considerado o “personagem mais interessante” existente atualmente na Amazônia. Essa é, pelo menos, a opinião do advogado americano Mark London, um dos autores do livro “Amazon”, publicado em 1983 pela Editora Harcourt Brace Jovanovich. Passados 25 anos do lançamento do livro – editado em português pela Record com o título “Amazonas: Um Grito de Alerta” – London, juntamente com o jornalista Brian Kelly, voltaram a região e descobriram um mundo em transformação. No mês que vem, a editora Random House lançará outro livro da dupla sobre a região: “A Última Floresta – A Amazônia na Era da Globalização”.
Para dar ao governador essa classificação, London lembra que um jornal inglês o chamou de “estuprador da Amazônia” pelo fato de suas fazendas de soja terem avançado na floresta. E rasga elogios ao governador de Mato Grosso – quase que em uma afronta aos radicais ambientalistas: “Maggi é a mais importante força na história da Amazônia. Ele criou um mercado, abriu vias de escoamento pelos rios que tornam hoje a soja brasileira mais competitiva do que a americana no porto de Roterdã (Holanda)”.
London atribui a Maggi o fato de ser “um empreendedor, que vive na região – e não em São Paulo ou Rio -, é um homem prático, que dialoga com a (ministra do Meio Ambiente) Marina Silva, e sabe que a destruição da Amazônia roubará o futuro de milhões de jovens”. Ele ainda ressalta que nos anos 80, quando escreveu o primeiro livro, “o grande empreendedor da Amazônia era o Daniel Ludwig, milionário americano misterioso cujos negócios deram errado”. Hoje, o grande empreendedor da região – ele diz – “é Maggi, político e empresário brasileiro cujos negócios deram certo”.
O novo livro de London e Brian Kelly não ecoa as mensagens de destruição propagadas sobre a Amazônia. Ele procura retratar o resultado de mais oito viagens que fizeram pela região, entre 2003 e 2005. “A Última Floresta – A Amazônia na Era da Globalização” descreve uma região vibrante e em transformação, que continua a sofrer os efeitos negativos da ocupação desordenada, como a violência, mas começa a ver os benefícios da conscientização da sociedade brasileira sobre o valor do tesouro ecológico que o País tem. Mostram, ainda, que atividades econômicas antes consideradas insustentáveis, hoje parecem viáveis.
Antecipando possíveis críticas de ambientalistas, Mark Plotkin, autoridade mundial em plantas e rituais medicinais da Amazônia, classificou a obra de ‘análise penetrante e estimulante’. Para ele, ‘o livro merece um lugar de honra na estante de todos, de biólogos a planejadores econômicos, que gostem de uma boa leitura’. Os teóricos da conspiração, que espalham pela internet mapas falsos que supostamente seriam usados em escolas dos Estados Unidos, demarcando parte da Amazônia brasileira como região internacionalizada, segundo Paulo Sotero, de “O Estado de São Paulo”, ficarão chocados com o livro dos dois “gringos” – uma agradável combinação de obra de aventura, reportagem e prescrição de políticas públicas.
Na entrevista, London diz que não faz nenhum sentido criar gados ou expandir a soja como atividades econômicas na região da “Cabeça do Cachorro”, no oeste do Estado do Amazonas. “Mas ambas podem fazer sentido em áreas já degradadas, que representam cerca de 40 milhões de hectares. Trata-se de usar de forma inteligente esse pedaço devastado e proteger o resto da floresta”. O advogado americano não apoio a construção da BR-319, de Manaus a Porto Velho, mas diz ser racional o projeto de repavimentar a BR-364, que liga o Acre e Rondônia a Mato Grosso e ao resto do Brasil, ou de pavimentar a BR-163, de Cuiabá a Santarém. “Isso, claro, respeitando o plano de zoneamento ambiental desenvolvido pelo governo brasileiro”.
London diz que é importante, também, que o Brasil adote uma política de regulamentação positiva, como o sistema de créditos de carbono. Ele afirma que se considera um nacionalista brasileiro na questão da Amazônia. “Defendo, por exemplo, a instituição de um imposto internacional de preservação da floresta” – acentuou. Ele observou que os Estados Unidos e outras potências já ofereceram US$ 5 bilhões em ajuda e vários outros incentivos para a Coréia do Norte, para que o país desista de ter armas nucleares, porque acham que isso seria uma catástrofe. “A comunidade internacional também concorda que a destruição da Amazônia seria uma catástrofe para o mundo. Se é assim, então ela tem obrigação de dar ao Brasil os recursos necessários para administrar a região, que é um recurso natural brasileiro cuja preservação beneficia não apenas o Brasil mas o planeta inteiro”.
Essa era a tese do cientista brasileiro Samuel Benchimol, um pioneiro dos estudos da Amazônia que faleceu em 2002 e foi homenageado pelo governo do Brasil com a criação do Prêmio Benchimol. O prêmio, lembra London, reconhece a produção de conhecimento e de tecnologias para o desenvolvimento sustentável da região. “Não se trata de internacionalizar a Amazônia. O Brasil tem todo o direito de usá-la de forma produtiva para benefício do resto do mundo. E isso inclui preservar a floresta. Acredito que o mundo deve pagar o Brasil por esse serviço” – destacou.