Lucas do Rio Verde sediará, em março, audiência pública para tratar do projeto e construção da Ferrovia da Integração Centro-Oeste. A data ainda será definida. Ontem, em Cuiabá, deputados estaduais, prefeitos, representantes de entidades voltaram a reforçar articulação política para o governo fazer a ferrovia, que 'cortará' cerca de 10 cidades no Araguaia, Médio Norte e Norte de Mato Grosso. Para Lucas é previsto um terminal de cargas.
A reunião contou ainda com a participação de representantes da Associação Terra Indígena do Xingu, em nome de 16 etnias. Eles afirmam não serem contrários à implantação da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste, mas destacam que a obra precisa considerar as tradições das populações indígenas, bem como o impacto ambiental.
Os deputados estaduais que ocuparam a tribuna foram unânimes em defender a implantação da Fico, pela ótica do progresso e do desenvolvimento. Mauro Savi (PSB) garantiu que “agora, o progresso tem que acontecer”, Zé Domingos Fraga (PSD) vislumbrou necessário “engajamento político” e até sugeriu a criação de uma frente parlamentar, entre outras ações a serem desenvolvidas pelo Legislativo, informa a assessoria. O deputado federal Victório Galli se comprometeu a defender a causa junto à bancada mato-grossense na Câmara dos Deputados.
O prefeito de Lucas de Rio Verde, Luiz Binotti, falou em nome dos demais prefeitos presentes e narrou o projeto como um sonho que está saindo do papel depois de anos. “Existe um projeto e que bom que agora estamos retomando”.
Por outro lado, a promotora de Justiça de Paranatinga, Solange Linhares, trouxe o contraponto para a maioria dos presentes, assegurando que a Fico é “um empreendimento que vai cortar Mato Grosso e vai impactar na vida do xinguano”, fazendo referência à proximidade da ferrovia ao Parque Indígena do Xingu, e destacou que haverá danos ambientais. Solange avaliou, ainda, que esse é um “empreendimento que interessa [apenas] à comunidade majoritariamente branca”, sem “nenhum benefício” aos indígenas, informa a assessoria.
Os representantes da Associação Terra Indígena do Xingu que se pronunciaram, Ayato Kuikuro e Kanato Yawalapiti, ressaltaram que precisam ser respeitadas as tradições dos povos representados, bem como o meio ambiente. “Não viemos aqui para impedir [o projeto], mas queremos que respeitem lugares sagrados”, declarou Ayato. O representante exemplificou que nenhum deles “abre uma estrada no meio da fazenda de vocês” e solicitou que a ferrovia passasse distante da reserva.
Kanato avaliou que o empreendimento atrairá novos brancos, que interferirão na cultura deles e, por esse motivo, ressaltou o pedido de que o trajeto da ferrovia seja distante da terra indígenas. “Somos guardiões do parque e sobrevivemos com recursos naturais. A gente não é contra o projeto, mas tem que ter um diálogo construtivo”.
O projeto final da ferrovia ainda não foi concluído e os processos burocráticos na esfera do governo federal e Ibama estão tramitando. Com 1.641 km de extensão, a ferrovia 'parte' de Goiás, passa por Mato Grosso e vai até Rondônia. Cocalinho, Nova Nazaré, Água Boa, Canarana, Gaúcha do Norte, Paranatinga, Nova Ubiratã, Sorriso até Lucas do Rio Verde. É um projeto que pretende facilitar a ligação entre os oceanos Atlântico, no Brasil, e Pacífico, no Peru. O trecho licenciado propiciará alternativas para o escoamento de grãos e minérios, direcionando a produção para os sistemas portuários do Norte e do Nordeste.