Nos próximos 121 dias, Jayme Veríssimo de Campos, ex-governador de Mato Grosso, vai percorrer todo o Estado. Livre dos compromissos do Senado Federal, tentará viabilizar um projeto ousado, qual seja, de ser candidato ao Governo em 2010. Vontade dele, não falta. Do partido também não. Mas é preciso sentir as bases, “fazer política”, como gosta de dizer, “gastar saliva, que é o combustível da política” e por ai afora. Ao término desse prazo e das caminhadas, ele e o partido decidem qual melhor posicionamento a ser tomado para as eleições. As opções são múltiplas, variadas e sem regras filosóficas clássicas.
Nas múltiplas opções que tem Jayme Campos e o DEM está até o que parece meio impossível neste momento do “campeonato”: obter o apoio do vice-governador Silval Barbosa, nome apoiado em verso e prosa pelo governador Blairo Maggi. A crença do senador licenciado se baseia no aspecto da reação. Ele diz taxativamente que Silval está sendo literalmente “queimado” no processo: “Estão fazendo jogo sujo com ele” – disse, referindo-se ao Partido da República, que ostenta opulenta ala que defende candidatura própria em 2010, liderada pelo economista Luís Antônio Pagot, diretor-geral do Departamento Nacional de Infra-Estrutura Terrestre (DEM).
Na cabeça de Jayme Campos a questão da fritura de Silval Barbosa está evidente. Por mais que o governador Maggi decante o nome do vice e abra espaço para gestão do Estado com viagens, férias e licença, a “trava” de Pagot é evidente. Detalhe: todo e qualquer encaminhamento feito pelo diretor do DNIT passa antes pelo aval do governador. Neste momento, por exemplo, Pagot espera o retorno de Maggi da África do Sul, onde lidera uma equipe de 35 pessoas, para decidir se assumirá ou não a vaga no Senado. A princípio, segundo Campos, está acertado para Osvaldo Sobrinho, do PTB, seu segundo suplente. Portanto, Campos vê digitais de Maggi no “emperramento” de Silval. “Eles estão fazendo trabalho de subtração e não de somar” – frisou.
Jayme diz que ainda não foi procurado por Silval para discutir a possibilidade de um entendimento entre DEM e PMDB para as eleições. Segundo o senador disse hoje, durante entrevista ao programa “Cidade Independente”, da rádio CidadeFM, o partido tem estabulado discussões mais aprofundadas com o PPS, do deputado Percival Muniz, e com o Partido Progressista, de José Riva e Pedro Henry. Admitiu também que tem uma conversa alinhada com o prefeito de Cuiabá, Wilson Santos, do PSDB.
Aliás, essa é uma das opções que dispõe o senador democrata. Com Santos, que também é pré-candidato ao Governo, segundo ele, a discussão se resume em saber quem estará melhor mais a frente. Se Wilson estiver bem nas pesquisas, é possível que haja entendimento em torno da candidatura do tucano. Mas se o democrata estiver melhor, o PSDB pode até fechar o acerto para 2010 – especialmente porque as duas siglas estão aliadas no plano das eleições presidenciais e juntos na oposição ao presidente Lula.
Campos considera que as pesquisas, que o colocam em posição de pouco destaque, refere-se ao fato de ser, de todos os pré-candidatos o único que não está “em campanha”. Ele disse que suas atividades tem se limitado apenas às articulações partidárias, isto é, uma discussão mais de partido, sem grandes holofotes para os eleitorais. “Estou em empate técnico sem fazer campanha” – frisou, ao destacar que vai ser candidato ao Governo “se tiver musculatura” para tal. Do contrário, vai ao velho chavão político: “Ninguém pode ser candidato de si próprio. É preciso reunir forças”. E ainda com efeito, destaca que “candidatura precisa nascer das bases”.
Na esteira da crítica do comportamento partidário dos aliados de Maggi, Jayme aproveita para demonstrar que tem pouca afinidade com o atual Governo. Primeiro lembrou que o executivo praticamente “desconhece” os Democratas. “Não temos reconhecimento do Governo e nem do grupo” – frisou. Prova disso está no fato de que em sete anos, não se ouviu menção sobre o partido no Governo. Dentro da base aliada, liderada pelo PR, nenhuma discussão com os democratas sobre eventual candidatura. Com isso, o que não faltam são críticas ao Executivo que ajudou a eleger duas vezes.
Ainda assim, o DEM tem um duro problema para resolver internamente: o comportamento dos seus políticos. Campos garante que o DEM não tem participação orgânica no Governo e que todos os democratas “incrustados” nos empregos públicos, em cargos de confiança, são indicação dos parlamentares, isto é, da bancada dos democratas na Assembléia Legislativa. Que é exatamente onde Maggi vem se segurando para evitar problemas de governabilidade. Entre os que mais emitem apoio ao Governo, está Gilmar Fabris, outrora “canino” defensor da família Campos, que a inicializou na política.
“Os cargos são dos deputados, não do DEM” – frisou, engrossando as críticas comportamentais ao Governo. Apesar desse problema, que quase representa uma cisão interna, Jayme Campos mantém o discurso de independência clássica. “Não sou submisso ao Governo e nem capacho de ninguém” – frisou o senador licenciado, que atacou a falta de qualidade social em Mato Grosso, a comitiva do Copa na África do Sul e seus eventos, além da falta de medidas de fomento para garantir que negócios do Estado fiquem no próprio Estado, como a venda de combustível e aluguel de carros.