Indígenas do baixo rio Tapajós fizeram um protesto contra o projeto da Ferrogrão, ontem, durante o seminário do ministério dos Transportes, que abordava a viabilidade dos aspectos socioambientais da ferrovia que ligará Sinop a Miritituba (PA). Em vídeo divulgado, aparece o líder indígena Arnaldo Filho Kumaruara esfregando tinta de urucum no rosto de seis homens e uma mulher que estavam sentados na primeira fileira de um auditório da Universidade Federal do Oeste do Pará, em Santarém.
O vídeo foi publicado nas redes sociais de indígenas kumaruaras e do Conselho Indígena do Território Kumaruara e descrito que o “gesto representou oposição veemente a essa proposta de desenvolvimento que busca abrir uma extensão de 900 mil hectares entre o Mato Grosso e o Pará na Amazônia”. Nas imagens, é possível ver que um dos homens se levanta irritado com a situação.
O grupo indígena ainda acrescentou na publicação apontando possíveis impactos com a ferrovia. “Afetarão diretamente não apenas as aldeias indígenas que residem na região, como os povos Munduruku e Kayapó Paranã, mas também acarretarão danos significativos a fauna e flora local. Manifestamo-nos contra esse plano que ameaça o rio Tapajós”, diz trecho da postagem.
Mês passado, conforme Só Notícias já informou, o governo federal decidiu prorrogar por mais seis meses o prazo para conclusão dos estudos para implantação da ferrovia. O grupo de trabalho que realiza os levantamentos foi instituído em outubro do ano passado e conta com representantes do Governo Federal, da sociedade civil e de lideranças indígenas. A intenção é discutir aspectos socioambientais e econômicos do empreendimento e facilitar o diálogo entre as partes interessadas. Na portaria do ministério não consta na portaria o motivo da prorrogação. No entanto, segundo a Folha de São Paulo, as discussões sobre o traçado da ferrovia estão emperradas nos bastidores. Entidades indígenas e movimentos sociais querem que o grupo analise a possibilidade de a ferrovia não atravessar o Parque Nacional do Jamanxin, no Pará.
No início de abril, o Instituto Socioambiental (ISA), entidade sediada em São Paulo, sugeriu ao Supremo Tribunal Federal a realização de uma audiência pública para discutir a implantação da ferrovia. O projeto foi suspenso devido a uma ação movida pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), em 2021, a qual questiona a diminuição do Parque Nacional do Jamanxin para passagem dos trilhos. Foi nessa ação judicial que o ISA apresentou um pedido para ser “amicus curiae”. Só Notícias apurou que, se a solicitação for atendida pelo relator, ministro Alexandre de Moraes, o instituto poderá apresentar contribuições sobre a ferrovia e ainda poderá fazer sustentação oral no plenário durante o julgamento.
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