Uma gravação à qual A Gazeta teve acesso deve aumentar ainda mais a polêmica em torno da Companhia de Saneamento da Capital (Sanecap). Captado durante uma reunião de diretores da entidade, o áudio sugere que as compras irregulares e fraudes em processos licitatórios ocorreram com frequência na estatal. A gravação tem 3 horas e 15 minutos, período em que servidores e o presidente da Sanecap, Aray Fonseca, admitem erros grosseiros em compras de material e processos licitatórios. O diretor-técnico, Jacírio Maia Roque, chega a admitir que o caso é de polícia diante dos rumores que circulavam nos bastidores da Companhia.
O áudio foi gravado durante uma reunião no final de maio e revela problemas em pelo menos 2 compras de materiais para obras. O assunto só veio a público nesta quarta-feira quando o vereador Deucimar Silva (PP) concedeu entrevista à rádio CBN Cuiabá, uma das emissoras do Grupo Gazeta de Comunicação. Ele admitiu que teve acesso à gravação e, por isso, cobrou medidas. "Se o prefeito Chico Galindo (PTB) não tomar cuidado, pode nem concluir o mandato de tanta corrupção que está ocorrendo", afirmou o parlamentar em entrevista para A Gazeta.
O jornal obteve o áudio que mostra Aray cobrando esclarecimentos sobre a compra de 240 toneladas de betonita (material impermeabilizante usado em grandes obras). A posição do presidente acirra os ânimos de diretores e resulta até em ameaças, por conta de rumores de que a empresa comprou produto vencido e de que um dos diretores se apropriou do material na tentativa de vender novamente ao município. O produto foi adquirido com viscosidade 20% menor que o ideal para uso, o que necessitaria desconto proporcional na compra, conforme orientou a assessoria jurídica da Sanecap.
A gravação mostra que os diretores têm evitado assinar documentos para não se comprometer, apesar dos indícios de fraudes. Ao saber do assunto, o prefeito Chico Galindo afirmou ontem que no início da noite cobraria esclarecimentos de todos os diretores. "Confio na direção da Sanecap, mas, se foi feita uma denúncia, isso tem que ser investigado. Agora, cabe também a quem denuncia mostrar provas. Não se pode falar apenas por falar".
O áudio pode ser apresentado hoje em sessão da Câmara. A expectativa é que, se isso for feito, a maioria dos parlamentares deve assinar o pedido para instaurar uma CPI, conforme sugerido pelo vereador de oposição Lúdio Cabral (PT). São necessárias assinaturas de 7 dos 19 vereadores por Cuiabá.
O presidente da Companhia, Aray Fonseca, garantiu que todos os processos licitatórios questionados durante a reunião se referem a aquisições feitas antes dele tomar posse. "A maioria do ano de 2010. Ninguém esconde que aqui existiam muitos problemas, mas nós estamos tomando providências e nada vai ficar impune".
Aray promete interpelar judicialmente Deucimar Silva para que ele esclareça as denúncias feitas na entrevista à rádio CBN. O parlamentar chegou a dizer que a Companhia está marcada por corrupção, levanta suspeita sobre compra de cimento e aterro, mas não deu detalhes.
Deucimar promete apresentar hoje requerimento convocando Aray para que ele dê explicações pessoalmente na Câmara. As irregularidades ocorreram principalmente ao longo de 2010, ano em que a Sanecap foi presidida por José Carlos "Nezinho" e Antônio Ventura. Em nenhum momento, no entanto, eles foram citados durante a reunião de diretores.
Para piorar a situação da Sanecap, servidores da Companhia decidiram ontem entrar em greve. A paralisação ocorre a partir de segunda-feira (22) e deve se estender por tempo indeterminado.
O presidente do Sindicato, Ideueno Fernandes, garante que pelo menos 30% dos serviços serão mantidos para não interromper o fornecimento de água. Ele alega que várias melhorias reivindicadas pela categoria não estão sendo atendidas, além do prefeito Chico Galindo não recuar com a proposta de conceder os serviços da Companhia à iniciativa privada.
Esse é o segundo indicativo de greve aprovado pelos servidores. Eles deveriam paralisar as atividades a partir do dia 15, mas suspenderam com a decisão do prefeito de recontratar os funcionários demitidos por participar de protestos contra a privatização da estatal.