Pelo menos dez parlamentares investigados pela Operação Sanguessuga teriam mantido contato direto com os integrantes do esquema, segundo transcrições de conversas telefônicas captadas pela Polícia Federal, às quais a Folha teve acesso.
Em alguns casos, a PF levantou indícios de que os parlamentares recebiam propina por assinar emendas que beneficiavam o esquema de venda de ambulâncias superfaturadas para prefeituras.
Num diálogo em 9 de novembro passado, Darci Vedoin, apontado pela PF como chefe da quadrilha conversa com o deputado Isaías Silvestre (PSB-MG). Silvestre diz a Darci que está “no sufoco, sem ar”. Para a PF, ele provavelmente se referia a uma necessidade de dinheiro.
Ainda em novembro, Darci e seu filho Luiz Antônio falam sobre o deputado Paulo Balthazar (PSB-RJ). Darci conta que estivera no dia anterior com o deputado. Luiz Antônio diz que iria mandar ao banco um funcionário do grupo chamado Rodrigo e pergunta a Darci se era 22, possivelmente se referindo a R$ 22 mil.
A funcionária do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino, que seria a responsável por agilizar a aprovação das emendas, fala com o deputado Lino Rossi (PP-MT) numa conversa em dezembro. O deputado reclama que estava perdendo emendas no valor de R$ 1 milhão em Cuiabá.
No mesmo mês, Luiz Antônio fala com Penha a respeito do senador Ney Suassuna (PMDB-PB). Pergunta se “aqueles do Ney vão empenhar”. Penha responde que o senador havia ligado no dia anterior. Segundo ela, Suassuna dissera que haveria R$ 1,6 milhão em emendas para ambulâncias para a Paraíba. Ela diz que haveria outra emenda de R$ 7 milhões.
Em janeiro, Penha conversa com Noriaque Magalhães, da Associação Mato-grossense dos Municípios. Noriaque diz que o deputado Wellington Fagundes (PL-MT) havia ameaçado tirar o “negócio” dele se Noriaque não fizesse a parte dele. Noriaque diz que é complicado mexer com deputado e que, se tivesse que ajudar algum, seria Pedro Henry (PP-MT), que os teria ajudado antes.
Os deputados Laura Carneiro (PFL-RJ), Nilton Capixaba (PTB-RO), Professor Irapuan Teixeira (PP-SP) e Elaine Costa (PTB-RJ) também são citados nos diálogos como tendo contatos diretos com a quadrilha.