sábado, 7/setembro/2024
PUBLICIDADE

Gravação de empresário de Colíder mostra como era feitos subornos a fiscais

PUBLICIDADE

A Polícia Federal de Mato Grosso começa a divulgar, pela primeira vez, as interceptações telefônicas (“grampos”), com autorização da Justiça. As pessoas acusadas e presas na “Operação Curupira”, sequer imaginavam que tiveram suas conversas gravadas pela PF.

Numa das acareações realizadas nesta semana pelo delegado Tardelli Cerqueira Boaventura, que chefia as investigações e preside o inquérito contra a “Máfia da Madeira”, Hugo Werle, ex-superintendente do Ibama ouviu as conversas que envolvevem seu nome, e agora ele sabe que existem outras gravações.

Numa das conversas entre outros acusados, Wilson Antonio Rosseto, um dos presos no Norte de Mato Grosso, conta com numa conversa com Ariel e em outra como H.N.I., como funcionava a compra e venda de ATPFs e como eles subornavam fiscais corruptos do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama).

OPERAÇÃO CURUPIRA

Interceptações telefônicas)

24/02/05 13:32:56
(65) 9983-0304 X (65) 9981-4702
Álvaro X Alex

Álvaro liga para Alex para contar um fato, ocorrido entre ele e uma chefia do Ibama, que o impressionou. A chefia fez uma proposta que Álvaro não compreendeu. Após o fato, Álvaro recebeu um telefonema, cujo interlocutor fez explicitamente a proposta de corrupção.

Alex: Alô.
Álvaro: Alexe.
Alex: Eu.
Álvaro: Você vai estar que horas na Tecamat?
Alex: Eu não devo sair daqui.
Álvaro: Ah, você está aí?
Alex: Estou.
Álvaro: Mas que hora que o Evandro vai estar aí também?
Alex: Ah, ele é chefe. Aí eu não sei. Por que?
Álvaro: Três e meia… Ah, eu tinha uma reunião com vocês dois.
Alex: Ah, me adianta o que que é aí, meu.
Álvaro: Você sabe o que que é, velho. Já sabe.
Alex: Não sei.
Álvaro: Saiu do jurídico e foi pra esfera decisiva, aí chegou lá “não, eu só assino se… Tá?”. Tá bom? Acabei de sair de lá agora, não almocei… Tô puto.
Alex: Ah, então saiu, independente dos documentos?
Álvaro: Saiu. Mandou sair. Entendeu?
Alex: Certo.
Álvaro: Eu preciso conversar com você.
Alex: Tá. Tá. Então tá.
Álvaro: O que que nós vamos fazer, porque daí já está na esfera final e tem mais os quatro lá atrás, né?
Alex: Certo.
Álvaro: Então quer fazer um pacote. Entendeu?
Alex: Certo.
Álvaro: Pra acelerar os quatro, também para a semana que vem tudo.
Alex: Tá, e o que que eles propõem?
Álvaro: Não, não tô dizendo nada, eu quero conversar com você o que que nós vamos passar, o que que nós vamos fazer. Eu não entendi na hora, Alex, sou sincero pra você, sabe? Eu levei pra assinar e ele disse que não ia assinar. Entendeu?
Alex: Quem não ia assinar?
Álvaro: A chefia maior.
Alex: Ah, é?
Álvaro: Aí eu perdi o controle, cara, porque eu não entendi na hora, cara. Entendeu?
Alex: [Risos]
Álvaro: Pôxa, pergunta pra minha mulher. Cheguei lá em casa, você ficar até meio-dia e quarenta lá e… Aí eu perdi o controle. Aí depois que veio o telefonema. “Ô, baixa a bola porque é isso”. Entendeu. Na hora eu não entendi, não entendi, juro por Deus.
Alex: Tá. E… O Evandro tá na outra linha aqui. Deixa eu ver com ele aqui. Já te ligo.
Álvaro: Tá bom.

24/02/05 13:35:29
65) 9981-4702 x (65) 9981-3037
Alex x Evandro

Alex conta a Evandro o ocorrido com Álvaro, descrito no diálogo anterior. Alex ironiza a situação, como se já estivesse acostumado com isso.

…(nada digno de registro)…
Alex: Seguinte: estava na outra linha agora com o [risos] o Doutor Álvaro. Disse que a hora que ele falou que já tinha ligado aqui. Isso, ele ligou da frente, né, a hora que o pessoal viu que ele já tinha ligado aqui, já estavam levando as cópias autenticadas para ele, ou seja, não ia ter mais enrolação, aí que o pessoal resolveu liberar sem as cópias mesmo.
Evandro: [risos]
Alex: Aí tá. Disse que ele chegou lá pro Hugo assinar, prontinho pro Hugo assinar, disse que o Hugo não assinou. Disse que não ia assinar. Disse que ele entrou em parafuso. Que ele foi pra casa dele e não sabia o que fazer.
Evandro: Ah.
Alex: Isso ele falando. Aí, a hora que ele disse que já estava procurando uma corda pra se enforcar, que ligaram lá pra ele, não disse quem e falou “pô, baixa a bola aí, não tem, e o nosso?”.
Evandro: Ah-ham.
Alex: Aí ele quer vir aqui pra passar isso, ver o que ele pode oferecer, o que ele pode fazer. [risos] não tem jeito…
Evandro: Tá, mas quem que é o cidadão, Alex? Ele vai chegar e vai falar “e aí…”.
Alex: Não, ele não quis dizer, mas é lógico que ele sabe, é o Hugo. Se o Hugo não quis assinar, o que o Hugo então teria a ver com isso? Disse que não quis assinar, o Hugo falou pra ele: “não vou assinar”. Disse que ele não sabia onde botar, disse que ele saiu transtornado de lá e depois que ligaram pra ele. Esse “ligaram” que ele nem precisava dizer quem é, né? Ou foi o Hugo ou alguém a mando dele. Olha a situação.
Evandro: Ele sabe quem que é a pessoa?
Alex: Sabe, lógico. Tô falando que o Hugo não assinou e que ligaram pra ele. Ligaram. Lógico que se não foi o próprio Hugo, foi alguém ou …(incompreensível)…
Evandro: …(incompreensível)… ele vai saber, ele vai voltar ele vai lá conversar com ele agora.
Alex: Ele quer vir aqui conversar comigo e com você juntos.
Evandro: Ah, você, hoje, não, então daí você resolve do mesmo jeito.
Alex: Ele não quer. Já falei pra ele, mas ele “não, eu quero a hora que o Evandro estiver, eu quero ir junto”. Falei: então tá.
Evandro: Tá brabo, meu irmão… Tem que levar um gravador, alguma coisa.
Alex: …(incompreensível)… não adianta, vai falar o quê? Ele quer fazer um pacote pros 5 processos já.
Evandro: Ah, vai, meu Deus.
…(nada digno de registro)…

22/03/2005 – 16:33
WILSON (66) 9201-7387 x ERIEL (93) 3518-3982

ERIEL fala de uma pessoa que tem interesse nas ATPFs e pergunta se tem como WILSON fazer por R$1.500,00 cada uma. WILSON diz não ter como, pois ele colocou seu carro no negócio. Acabam fechando o valor em R$1.600,00 cada ATPF. ERIEL fica de pegar um avião para levar o dinheiro e pegar as ATPFs com WILSON.

…(nada digno de registro)…
ERIEL: Viu, fazer um negócio pra você. A de …(incompreensível)…vai dar negócio aqui. Veja bem. Tem uma pessoa aqui que ele fez pedido lá, via Cuiabá, aí o cara fez pra ele, tava fazendo pra ele a 1500. Não tem como você fazer esse trem pra mim não?
Wilson: Não dá. Não dá, sabe por que? Por causa do carro. Eu tô enfiando o carro na jogada.
ERIEL: Ah, é, né? Certo.
Wilson: E eu tenho que no mínimo tirar, tenho que conseguir comprar outro carro.
ERIEL: Veja bem, eu não tô ganhando… eu não vou ganhar nada com esse trem não. Nadinha. Eu só vou passar pra …(incompreensível)…vender. Nenhum centavo. Aí, eu vou aí, você paga a passagem pra mim buscar esse trem em mão e voltar. Vou levar o dinheiro em mão, tá?
Wilson: Em dinheiro?
ERIEL: Hã?
Wilson: Em dinheiro, mil e seiscentos?
ERIEL: Exato, é. Mil e seiscentos.
Wilson: Então, quanto que é a passagem?
ERIEL: Eu não sei quanto que é não. Eu paguei de …(incompreensível)…pra cá, não dá mais de quinhentos contos, não. É quatrocentos …(incompreensível)…
Wilson: Então tá, vamos fazer o seguinte, Eriel. Eu vou fazer o seguinte. Eu vou te ligar desse 94 seu, e vou confirmar com você dentro de 10 minutos.
ERIEL: Se tá pronto, ou não?
Wilson: É… não, não. Tá lá comigo, ué?
ERIEL: Ah, tá.
Wilson: É só pra mim entregar a caminhonete pro cara.
ERIEL: Não, eu vou… veja bem. Não, fala pra tu fechar com ele mais tarde. Não fecha agora não, porque eu vou ali buscar o dinheiro primeiro.
Wilson: Ah, tá. Tudo bem, então.
ERIEL: Tentar depois das oito, que tem uma ligação aqui, uma reunião, mais ou menos sete horas. Aí sete horas, se eu tiver com o dinheiro na mão, já falo com você.
Wilson: Então você me liga confirmando. Ó, ô meu, o cara faz isso, tá comigo e eu vou buscar.
ERIEL: Certo. Aí, eu até fiz um negócio que é o seguinte. Eu tenho aí, vai dar onze e pouco, onze mil aí, se faltar, inteiro com esse meu aí, aí ele me paga oito por cento de juro aqui. Certo?
Wilson: Então tá. Vamos fazer o seguinte, sete horas você me liga. Se eu não te atender, eu tô jogando bola. Você me liga em seguida.
ERIEL: Então tá. Com relação a isso, eu acho que vai dar certo. Porque eu tava com esses quase trinta aí, aí depois eu vou pegar pra mim passar pra frente. Pra outra pessoa e …(incompreensível)…
Wilson: Vê se você consegue trazer o dinheiro dessas trinta, pra mim comprar outra caminhoneta. Senão eu fico à pé. Tá combinado?
ERIEL: Tá beleza.
…(nada digno de registro)…

30/03/05 – 19:36:15
WILSON (66) 9201-7387 x HNI (?)

HNI diz que teria ligado para a concessionária Toyota, e avisa que lá teria uma caminhonete por R$108.000,00 (cento e cinco mil Reais), mas para retirada posterior. WILSON diz que arranjou uma na concesionária de Sinop, por R$105.000,00 (cento e cinco mil Reais), com entrega imediata.
…(nada digno de registro)…
WILSON: … a minha caminhonete tá na loja, rapaz. É só ir montar nela. Por 105.
HNI: Ah, mas você falou que não tinha comprado.
WILSON: Não, eu falei e 11:20 o cara me ligou que acabou de encostar o caminhão lá na loja pra pegar. Tá na loja pra mim pegar. Eu não fui buscar hoje porque eu não tava com o dinheiro comigo hoje.
HNI: Ah…
WILSON: É, tá lá na loja.
…(nada digno de registro)…

10/11/2004 – 09:14
(65) 9229-4181 x (65) 8112-8058
Wilson x Elvis

WILSON, empresário de Colíder, solicita a ELVIS que “compre” um plantonista do posto de fiscalização do IBAMA, no Trevo do Lagarto. Ressalta que se conseguir dois plantões seria ainda melhor; está disposto a pagar até R$ 1.500,00 (Um mil e quinhentos reais), por plantão, a cada quinzena. Ele transportaria madeira bruta (em toras ou apenas serrada) como se fosse beneficiada, o que tornaria dispensável a apresentação de ATPF, sendo exigida, nesse caso, a Nota Fiscal carimbada pelo fiscal, atestando que a madeira fora beneficiada. Esse golpe é um dos mais usados e conta obrigatoriamente com a participação de fiscais corruptos.

(Nada digno de registro)
Wilson: Você por acaso conhece algum dos plantões, algum chefe de equipe dos plantões do trevo, que é amigo seu?
Elvis: Uai, conheço todos. Eu conheço todos.
Wilson: Pois é, eu precisava sentar com um plantão desses já dava. Por exemplo: a cada 15(quinze) dias dou uns troquinhos só pra mim, não mandar nada errado, entendeu, é só mandar na Portaria 44. Pouca coisa, porque é só pra suprir mesmo.
Elvis: Hum, eu posso ver pro cê.
Wilson: Tem que ser um cara bom, desses que honra os compromissos, entendeu. (Nada digno de registro) O único cara bom que eu tinha era o Zé Carlos, eu não consigo falar com ele.
Elvis: Hã, hã. Mas ele não tá indo; deixa eu ver certinho pro cê aqui.
Wilson: Vê se você me agiliza aí, vai, por exemplo, cada 15 (quinze) dias, eu daria aí uns mil e quinhentos, mil conto, não é pra passar rios de carreta, não, só passa no plantão dele; se for à noite é à noite, se for de dia é de dia, mas não é nada com furada não, só vai vir na Portaria 44, entendeu como é que é?
Elvis: Entendi, entendi. Não, não, mas eu já vou ver isso aí pra você, daí daqui a pouco eu já te ligo.
Wilson: E se você me arrumar dois plantão bom, eu… aí fica melhor ainda.
Elvis: Ah, dois é melhor?
Wilson: É, porque aí fica 24 horas né. Porque, sabe, caminhão sai de longe e pra chegar às vezes o cara já saiu do plantão e aí tem que esperar, é um transtorno né.
Elvis: Aí cê consegue pelo menos três, né?
Wilson: É, ué. Me vê isso e me fala à tarde.
(Nada digno de registro)
Wilson: Eu teria alguma coisa pra vir hoje, passava à noite.
Elvis: Não, pode deixar comigo.
Wilson: Deixa eu te fazer assim: cada quinze dias (Incompreensível). O máximo que eu posso pagar a cada quinze dias é mil e quinhentos (1.500) contos.
Elvis: Tá. Não, deixa eu conversar primeiro, daí depois eu vou ver e quanto que é e quantos são, tá?
Wilson: Então tá.
(Nada digno de registro).

ENTENDA O CASO – O engenheiro florestal Álvaro Fernando Cícero Leite, de 41 anos, confirmou tudo o que havia declarado antes à Polícia Federal, hoje durante uma acareação que começou às 9 horas e passou das 12 horas. Álvaro voltou a afirmar que o professor universitário Hugo José Scheur Werle, 44, funcionário público federal, ex-superintendente do Ibama cobrou propina para assinar um projeto de reflorestamento florestal de interesse da empresa Tecamat.

Álvaro confirmou tudo na presença do delegado Tardelli Cerqueira Boaventura e de alguns advogados que acompanharam a acareação. A propina teve o valor de R$ 20 mil, depois de uma negociação entre o empresário Evandro Trevisan e o funcionário Alex de Oliveira, cujas negociações, via telefone, foram gravadas pela PF através de escuta autorizada pela Justiça Federal.

No dia seguinte ao acerto, o projeto estava assinado. A propina, no entanto, acabou não sendo paga.

“talvez o Álvaro esteja mentindo”, foram as primeiras palavras de Hugo. Logo ele voltou atrás e assegurou que Álvaro estava mentindo. Disse que em princípio se recusou a assinar o projeto para fazer uma análise mais completa, o que realmente aconteceu no dia seguinte.

Disse que não recebeu e nem cobrou a propina que estão falando, alegando nos seguintes termos: “pode ser que eu tenha ligado para Álvaro após ter saído do gabinete”. “Também não me recordo qual o assunto tratado”.

Nas investigações, a PF confirmou através de escuta telefônica, uma conversa entre Alvaro e Alex de mais de sete minutos, onde Álvaro fala para Alex a respeito da propina cobrada por Hugo, o ex-superintendente do Ibama disse: “Não sei por que eles tiveram esse diálogo, pois eu nunca pedi propina”.

A realidade, no entanto, é que nem as mais de 100 pessoas presas na “Operação Curupira”, muito menos seus advogados, tinham conhecimento que a Polícia Federal possuía centenas de horas de gravações, todas com autorização da Justiça.

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Mais notícias
Relacionadas

Ministro diz que Mato Grosso terá nova unidade da Embrapa

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, anunciou,...

Sinop, Lucas e demais cidades são contemplados com recursos da lei Paulo Gustavo

O resultado preliminar de seleção do edital Prêmio Literatura...

Prefeitura de Lucas do Rio Verde cancela desfile cívico neste sábado

A prefeitura de Lucas do Rio Verde informou, há...
PUBLICIDADE