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Gestão de Blairo no governo fez pagamentos milionários a empresas investigadas

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A gestão do senador Blairo Maggi (PR) no governo de Mato Grosso (2003-2010) fez pagamentos milionários a empresas suspeitas de abastecer um esquema de caixa dois no Estado. Blairo e outras autoridades de Mato Grosso, como o próprio governador Silval Barbosa (PMDB), são investigadas pela operação Ararath, da Polícia Federal. A PF pediu buscas na casa, no escritório e na sede das empresas de Maggi, mas o STF (Supremo Tribunal Federal) negou. Houve buscas na casa do governador Barbosa, que chegou a ser detido por posse ilegal de arma.

O principal delator do suposto esquema é o empresário Gércio Mendonça Jr., conhecido como Júnior Mendonça. Ele presta informações em regime de delação premiada (em troca de benefícios na acusação).

A Amazônia Petróleo (rede de postos de combustíveis) e a Globo Fomento (factoring), empresas de Mendonça Jr., são apontadas pela PF como uma espécie de "banco clandestino" , que desde a gestão Blairo recebia empréstimos privados fraudulentos e recursos desviados de cofres do Executivo, Legislativo e Judiciário de MT.

O senador nega manter relações com o empresário.

Lince Construtora
Mendonça Jr., por exemplo, reconheceu à PF que a Globo Fomento recebeu em 2008 um depósito de R$ 2 milhões da Lince Construtora e Incorporadora, de Cuiabá (MT). Disse que o depósito foi feito "a mando de terceiro", não sabendo dizer se do grupo de Éder Moraes (PMDB), ex-secretário da Fazenda de Blairo e da Copa na gestão Barbosa, ou se do grupo do presidente afastado da Assembleia de MT, José Riva (PSD). O empresário disse nunca ter mantido relação comercial com a Lince. "O que por essa razão gera convicção no depoente [Mendonça Jr.] que [o dinheiro] seja de um grupo político ou de outro", diz trecho de decisão da Justiça Federal que autorizou a quinta fase da operação.

Para a PF, há "fortes indícios" de lavagem de dinheiro e de desvio de recursos públicos na operação, já que a Lince recebeu, também em 2008, pagamentos de R$ 6,22 milhões do governo Blairo, por obras e serviços de engenharia.

A Lince e as casas de seus dois sócios foram alvo de buscas na operação Ararath nesta semana. A reportagem não conseguiu contato com a empresa -o número que aparece na lista telefônica está fora do ar.

'"Bucha" da Gemini
Outra empresa investigada na operação é a Gemini Projetos Incorporações e Construções, que nesta semana foi alvo de buscas em sua sede e na casa de seu representante, ambas na capital de MT.

Mendonça Jr. disse ter comprado, em fevereiro deste ano, uma dívida de R$ 500 mil da Gemini no banco privado Bicbanco. Para tal, obteve empréstimo de R$ 3 milhões no próprio Bicbanco, que, segundo a PF, tem dirigentes sob suspeita de participação no esquema.

O empresário afirmou ter feito a operação a pedido do ex-secretário Éder Moraes, que o chamara para resolver uma "bucha", pois a Gemini estava em recuperação judicial.

Ocorre que a empresa recebeu do governo de MT, de 2007 a 2009, pagamentos que somaram R$ 3,86 milhões. Isso, ocorreu, segundo a Justiça Federal, mesmo com a empresa em recuperação judicial e "considerando-se os indícios de que associadas às operações financeiras ilegais estariam ocorrendo desvios de recursos públicos".

Laje Engenharia e Pavimentação
Para o juiz federal Jeferson Schneider, da 5ª Vara Federal, o caso da empresa Laje "revela a provável procedência das informações acerca do envolvimento de Blairo Borges Maggi no esquema".

Em 2006, já como governador, Maggi foi fiador, em agosto daquele ano, de um empréstimo de R$ 5 milhões tomado pela Laje no Bicbanco. Dois meses depois, o governo de MT informou ao Bicbanco que tinha R$ 1,08 milhão para pagar à Laje.

São Tadeu Energética e Lotufo
O delator Mendonça Jr. disse ainda ter feito, em 2009, um pagamento de R$ 388,5 mil para a São Tadeu Energética, empresa de Mauro Carvalho Júnior, empresário amigo de Blairo que já atuou em campanhas do senador.

A PF suspeita que Blairo tenha sido "devedor solidário" na operação. Sobre isso, escreveu o juiz Schneider: "Os indícios são fortes de que Gércio [Mendonça] Júnior forneceu recursos, a mando de Éder Moraes, para cobrir parte da dívida da PCH São Tadeu [São Tadeu Energética] perante o Bicbanco. Partindo dessa provável premissa é que se extrai a conclusão óbvia: parte dos recursos obtidos mediante empréstimos, perante o Bicbanco, pela São Tadeu Energética eram destinados ao grupo político do qual faziam parte Éder Moraes e Blairo Maggi".

A São Tadeu funciona em Cuiabá no mesmo endereço da empresa Lotufo Engenharia e Construções, também alvo de buscas na operação e que fez doação de R$ 250 mil para a campanha de Blairo ao Senado em 2010.

Outro lado
A assessoria de Blairo Maggi negou qualquer envolvimento do senador com o suposto esquema. Disse que ele está na França e tem todo o interesse em esclarecer o assunto ao retornar.

Disse ainda que Blairo nunca manteve relações com Mendonça Jr., e que o recebeu apenas uma vez em, 2009 na sede do grupo Amaggi, quando o empresário foi levado por seu sogro, um ex-conselheiro do Tribunal de Contas.

Mendonça Jr. diz que emprestou R$ 4 milhões a Blairo, que seria usado para "comprar" uma vaga no Tribunal de Contas do Estado, e que esse encontro teria sido para cobrar a dívida. A assessoria de Blairo reconhece o encontro e diz que o então governador expulsou o empresário da sala.

A assessoria reconheceu que Blairo de fato foi avalista em empréstimo tomado pela São Tadeu Energética, em razão de dificuldades que a empresa enfrentava após um acidente na construção de usina, e afirmou que a operação foi legal.

A reportagem não conseguiu contato com as empresas Gemini e Laje -os números que aparecem na lista telefônica não atendem ou não são das firmas. Não obteve contato com a São Tadeu nem com Mauro Carvalho Júnior.

O Bicbanco, que foi alvo de buscas na operação, afirma que não é investigado e que colabora com as apurações.

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