O comando da 13ª Brigada da Infantaria Motorizada apresentou no último dia 22, aos ministérios da Defesa e de Assuntos Estratégicos um plano para ocupação de 22 terras indígenas em 28 municípios mato-grossenses que estão na faixa de fronteira com a Bolívia e na divisa com Rondônia, onde estão índios principalmente das etnias Paresis e Nhambiquara. O comandante da brigada, general Theófilo Gaspar Oliveira, diz que o objetivo é impedir a utilização desses espaços para atuação do crime organizado, exploração de madeireiras e organizações não-governamentais (ONGs) que chegam a Mato Grosso para praticar biopirataria.
A situação, segundo o general, é desoladora em algumas aldeias, como a Sararé, entre Nova Lacerda e Conquista D´Oeste, onde os índios têm sido afetados de maneira incisiva pela influência dos homens brancos, ao transmitir todo tipo de doença. Nas investigações feitas na região que ocupa cerca de 700 km de fronteira seca, numa extensão de 1,3 mil km, parte da população desses povos está com desnutrição, alto índice de mortes por gripe, alcoolismo e até doenças sexualmente transmissíveis, como Aids.
O plano considera urgente a necessidade de reforço do efetivo do 2° Batalhão de Fronteira, responsável pelo Destacamento Militar de Corixa, localizado na fronteira com a Bolívia a 71 km de Cáceres. O local de acordo com o comandante está entregue à própria sorte. “Qualquer pessoa pode atravessar o limite entre os países a pé, de bicicleta ou de carro. O acesso é fácil a San Mathias. A situação é a mesma em Comodoro, Vila Bela da SS. Trindade e Pontes e Lacerda”.
Para que o projeto de ocupação dê certo, será necessário o governo federal deslocar das regiões Sul e Sudeste reforço mínimo de 4 mil soldados só para esta fronteira, pontua o general. Uma das primeiras providências já acertadas inclui a ida de um esquadrão de cavalaria para Pontes e Lacerda, além da ampliação e instalação de bases em diversos municípios, como Tangará da Serra, Nova Olímpia, Porto Estrela, Comodoro, Vila Bela da Santíssima Trindade e Campos de Júlio.
Além de reforçar o contingente o general defende a necessidade de que a tropa seja equipada com viaturas, embarcações, voadeiras (barcos com motores modernos e potentes) e reforço no serviço de inteligência. “Sem equipamentos sofisticados, será complicado fazer o monitoramento”. O general sugere a aquisição de veículos aéreos não tripulados (VANT), de fabricação iraniana, mas que podem ser fabricados no país. São aeronaves conduzidas por controle remoto e equipadas com câmeras. Elas têm condições de captar imagens computadorizadas voando em altura acima de jatos comerciais.
O plano de acordo com a ONG, é parte da estratégia de fortalecimento e reequipamento das forças armadas, e já tem a aprovação do presidente Lula. O general aponta três grandes projetos que devem ser colocados em prática a partir do ano que vem, envolvendo a reativação da indústria bélica nacional, e a aquisição de mísseis terra-terra e terra-ar, que deverão equipar 51 helicópteros e combate, sendo 17 para cada uma das Forças (Exército, Marinha e Aeronáutica), com entrega prevista até 2010. Hoje, o Exército em Mato Grosso não conta com nenhum helicóptero.
Para o general a missão constitucional das Forças Armadas de zelar pela soberania e integridade do território nacional implica numa atuação mais contundente na repressão do tráfico de drogas e armas, por isso a necessidade de se priorizar as regiões despovoadas da fronteira.
O procurador federal designado para a Fundação Nacional do Índio (Funai) em Mato Grosso, Cezar Lima do Nascimento, avalia de maneira positiva a ocupação das terras indígenas na fronteira, até como uma forma de levar outros serviços essenciais nas áreas da saúde e educação para as aldeias, além de ajudar na proteção efetiva dos territórios constantemente invadidos. “Tenho resistências às ONGs e às missões religiosas, porque acabam intervindo de maneira abrupta na cultura dos índios” – disse.