O ex-secretário de Estado de Planejamento, Arnaldo Alves, afirmou à juíza da Vara Criminal de Cuiabá, Selma Arruda, que parte da denúncia contra ele é falsa. Ele prestou depoimento na audiência de instrução referente à ação penal oriunda da operação Sodoma 3, que apura fraude de R$ 15 milhões na desapropriação do terreno do bairro Jardim Liberdade, em Cuiabá, em 2014. Dos R$ 15 milhões, R$ 10 milhões foram utilizados para pagamento de uma dívida do grupo político do ex-governador Silval Barbosa (PMDB).
Ele relatou que foi chamado pelo então governador Silval Barbosa para tratar sobre remanejamento de valores, mas explica que isso é uma prerrogativa do chefe de Estado e que suplementações são normais dentro do governo e ainda que a desapropriação do Jardim Liberdade era uma demanda do Estado, mas que não era somente a secretaria de Planejamento que tratava dessa questão.
Arnaldo afirmou que houve um decreto orçamentário que autorizou a suplementação de recursos e que isso ocorreu de forma legal. "A responsabilidade da Secretaria de Estado de Planejamento é somente no orçamento".
Ele relatou que após passar pela Seplan, o processo de desapropriação foi remetido para a Casa Civil e depois para o gabinete do governador, seguindo a tramitação normal. No entanto, ele revela que depois disso, foi procurado pelo ex-chefe da Casa Civil Pedro Nadaf que lhe ofereceu parte do "retorno" que haveria na transação.
“Depois que foi feita a suplementação do Intermat, o secretário-chefe da Casa Civil Pedro Nadaf me chamou na sala dele e falou que estavam pagando uma desapropriação. 'Essa desapropriação vai dar um retorno pra nós, porque existe uma dívida do governador ainda, eu conversei com o Silval e esse retorno que está vindo vai ser mais do que a gente precisava e há possibilidade de rateio, eu coloquei você e o Silval concordou que você também recebesse', teria dito Pedro Nadaf, segundo Arnaldo.
"Realmente, assim foi feito, não sei se foi em três vezes, o Pedro passou dinheiro pra mim, também passou um cheque. Esse dinheiro que ele foi passando pra mim, eu fui guardando ele num armário. A partir de um determinado instante, aparece um amigo meu, também amigo do Pedro, o Alan Malouf]. E numa conversa minha com o Alan, ele falou de uma dificuldade que ele estava tendo e eu falei desse dinheiro que eu tinha lá parado, não tinha porque usar, minha vida sempre foi economicamente equilibrada. Então, eu falei pro Alan que se precisasse eu emprestava pra ele, sem compromisso. Então, assim foi feito eu passei pra ele a parte em dinheiro que tinha comigo. Ele ficou com esse dinheiro e ainda depois me falou que o Pedro passou pra ele um valor que era para mim”.
A juíza questiona sobre o valor total que foi repassado a Alan Malouf. "Pela qualidade do trabalho que o Pedro faz de contabilidade, controle – era impressionante o que ele fazia – acredito que ele tenha mais controle do que tenha sido. Segundo o Alan, era em torno de R$ 200 mil, parece que o Pedro me falou isso também”.
“Eu passei o valor em torno de R$ 430 mil, sendo parte em dinheiro e um cheque. O dinheiro eu passei pro Alan e o cheque eu fiquei com ele. Acredito que tenha dado R$ 607 mil”.
Nos momentos em que falou da doença que sofreu e também do entendimento que tinha do dinheiro que havia recebido, Arnaldo Alves chorou, dizendo que não precisava daquele dinheiro e que está incomodado com a repercussão que a operação Sodoma teve, visivelmente constrangido.