O deputado José Dirceu (PT-SP) reafirmou hoje, em depoimento à Comissão de Ética da Câmara, que não vai renunciar. “Eu não teria condições de olhar nos olhos de meus colegas, da militância do PT e de andar de cabeça erguida se eu renunciasse”. Dirceu criticou a imprensa que, segundo ele, tem noticiado a seu respeito sem consultá-lo. “A única coisa que eu quero é justiça. Não posso aceitar ser transformado em chefe de quadrilha”, afirmou.
Dirceu disse que só foi citado na CPI dos Correios por Roberto Jefferson. O ex-ministro da Casa Civil afirmou que não é réu, mas que está disposto a ir à CPI prestar depoimento. Ele também defendeu o seu partido. “Não há partido mais democrático, mais pluralista que o PT. Eu dirigi o PT com as bases. O PT é produto da própria luta das classes do Brasil. Foi se construindo na prática”, afirmou.
Segundo Jefferson, José Dirceu sabia do esquema “mensalão”. Quando era presidente do PTB, Jefferson disse ter falado “uma meia dúzia de vezes” com o então ministro da Casa Civil sobre o assunto. Dirceu negou essas conversas e diz que soube do assunto pela imprensa.
Na semana passada, em depoimento à CPI dos Correios, a mulher e sócia de Marcos Valério, Renilda Santiago, disse que Dirceu participou de reuniões com diretores do Banco Rural e do BMG, no final de 2004, para tratar de empréstimos ao PT. Dirceu divulgou nota afirmando que esteve com os diretores dos bancos em duas ocasiões diferentes, mas que em nenhum momento tratou de empréstimos ao PT.
No último fim de semana, a revista Veja publicou cópia de autorização para Roberto Marques, amigo de Dirceu, sacar R$ 50 mil em conta da SMPB. O saque foi feito por outra pessoa, conforme documentos em poder da CPMI. Bob, como é conhecido, nega que tenha recebido autorização. José Dirceu afirma estar sendo vítima de uma “armação”.
Ontem, o jornal Correio Braziliense publicou a informação de que Marcos Valério ajudou a segunda ex-mulher de Dirceu, Ângela Saragoça, a comprar um apartamento e a arrumar um emprego. Saragoça confirma a informação, mas afirma que Dirceu não tinha conhecimento disso.
Logo no começo da sessão, o presidente do Conselho, deputado Ricardo Izar (PTB-SP), leu uma nota de esclarecimento à imprensa e à opinião pública em que negou qualquer suposição de que haja negociações em curso para extinguir o processo contra o deputado Roberto Jefferson (PTB-SP), autor das denúncias do “mensalão”. “Reafirmo o nosso compromisso inabalável com a investigação ampla, aberta, transparente e serena”, afirma a nota.
A segurança da Câmara dos Deputados montou um esquema especial para o depoimento de José Dirceu. À exceção dos parlamentares, todos os que acompanharam o depoimento foram vistoriados e passam por detectores de metais. Só tiveram acesso ao plenário do Conselho de Ética parlamentares, seus assessores diretos ou jornalistas credenciados na Câmara. O único depoimento cercado de tantos cuidados foi o do deputado Roberto Jefferson, no dia 14 de junho deste ano.