Está apertando cada vez mais a situação dos políticos denunciados no esquema das ambulâncias, identificados como sanguessugas. A assessora Maria da Penha Lino, infiltrada pela quadrilha das ambulâncias no Ministerio da Saúde, prestou depoimento explosivo à Policia Federal na segunda-feira à noite. Para conseguir os benefícios da delação premiada, ela contou que, em 2004, a quadrilha conseguiu que cerca de um terço dos deputados federais participasse da venda de emendas ao Orçamento na área de Saúde. Parlamentares de Mato Grosso estão envolvidos no caso.
O esquema funcionava assim: o deputado emplacava uma emenda e, antes mesmo da liberação do dinheiro, recebia 10% de seu valor nominal. Maria da Penha revelou, segundo a revista “Época”, que o dinheiro era levado para os gabinetes do Congresso em malas, cuecas e meias. Ela citou o nome de 80 deputados que participaram do esquema. Na lista conhecida aparecem os nomes dos deputados Lino Rossi (PP), Ricarte de Freitas (PTB), Pedro Henry (PP) e Thelma de Oliveira (PSDB), além de Wellington Fagundes (PL).
Outros envolvidos por ela no escândalo são os deputados Ann Pontes (PMDB-PA), com forte atuação no Conselho de Ética, Jovair Arantes (PTB-GO), Almerinda de Almeida (PMDB-RJ), Carlos Dunga (PTB-PB), Feu Rosa (PP-ES), Inaldo Leitão (PL-PB). Maria Penha fez questão de excluir a deputada Denise Frossard (PPS-RJ): “Pelo amor de Deus, essa mulher é séria”. O petista João Grandão (MS) também está na lista dos que integram a quadrilha.
Maria da Penha contou também à PF que, em dezembro de 2005, mesmo depois de encerrado o prazo para empenho de emendas, o senador Ney Suassuna foi ao Palácio do Planalto e conseguiu a liberação de R$ 1,6 milhão para o IPPS, Instituto de Pesquisa e Promoção de Saúde que atua em vários Estados. Logo depois, o Ministério da Saúde foi surpreendido com um novo ofício atribuído ao senador elevando o valor para R$ 3,5 milhões. O papel foi entregue pelo empresário Luiz Antônio Berdoin, um dos chefões da quadrilha. Como não havia previsão orçamentária para a liberar do dinheiro, o Ministério entrou em contacto com Suassuna. “Assinei sem ler” – teria justificado o senador.
Outra fraude denunciada por Maria da Penha ocorreu em São Paulo. Em 2004, os deputados Giberto Nascimento (PMDB-SP) e Jefferson Campos (PTB-SP) liberaram respectivamente R$ 1,9 milhão e R$ 1,3 milhão para uma Oscip que não atua na área de saúde. O dinheiro também era carimbado para a compra de ambulâncias. Segundo Penha, tiveram que criar um artifício para dribrar a proibição legal de liberação de dinheiro durante a campanha eleitoral.
Mato Grosso era a sede da organização criminosa que desde 2001 vinha fraudando licitações de bens como móveis, equipamentos e veículos do Ministério da Saúde com várias prefeituras de Mato Grosso, Acre, Amapá, Rio de Janeiro, Paraná e Minas Gerais. E a chefia da operação criminosa estava a cargo da família Trevisan Vedoim, que tem duas empresas em Cuiabá, a Planan Indústria e Comércio e a Santa Maria Comércio.
De acordo com as investigações, a família Trevisan contava com o suporte de funcionários do Ministério da Saúde, da Câmara Federal em Brasília e da Associação Mato-grossense dos Municípios. As fraudes deram um prejuízo superior a R$ 110 milhões aos cofres públicos.
A Policia Federal explicou que foram executados 54 mandatos de prisão temporária e 53 mandatos de busca. De Mato Grosso 21 pessoas foram presas, sendo uma em Brasília – a servidora do Ministério da Saúde, Maria da Penha Lino. A PF fez o seqüestro de bens e o bloqueio das contas bancárias. A PF está trabalhando com 250 polícias e 50 delegados. E todos os presos virão para Cuiabá.