O governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, disse em entrevista à BBC Brasil em Washington, que os números utilizados pelo governo federal para medir o desmatamento na Amazônia ”criam muito alarde” e não batem com a realidade.
Segundo Maggi, os dados obtidos através de imagens registradas por satélite e analisados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), oferecem uma imagem distorcida, ”como se o desmatamento da Amazônia estivesse descontrolado, quando, na verdade, ele está declinante”.
O novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, pouco após sua posse, citou os dados do Inpe, segundo os quais um total de 1.123 quilômetros quadrados da Floresta Amazônica foram desmatados somente no mês de abril e que o Mato Grosso teria liderado o processo, respondendo por um total de 794 quilômetros quadrados.
Os dados são obtidos pelo instituto através do programa de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), mas Maggi refuta os números. ”Nós temos problema com desmatamento? Temos, mas não nos números que estão sendo colocados”.
Tipo de desmatamento
“O que o Inpe precisa fazer é separar o que é desmatamento corte raso (etapa final do processo de desmatamento) do que é degeneração progressiva (quando ainda existem árvores na área)”, afirmou.
O governador acrescentou: “Uma coisa é intervir em uma área derrubada, colocada no chão. Outra, é intervir numa área modificada, mas que não foi derrubada ainda, com o passar de quatro, cinco anos, aquela área voltará a ter toda a sua atividade, de biodiversidade, tanto da fauna como da flora”, disse.
“A divulgação desses números pelo Inpe não são nada bons para o país e nada bons para o Estado do Mato Grosso”, ressaltou.
A despeito da tensão causada pelas críticas a Maggi na posse do novo titular da pasta do Meio Ambiente, o governador e o ministro Carlos Minc teriam mantido um encontro amistoso, recentemente em Belém, durante o 1º Fórum de Governadores da Amazônia Legal.
Crédito Rural
Mas o governador vem criticando a decisão do governo de alterar as regras de aplicação da resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN), que restringirá, a partir do dia 1º de julho, a concessão de financiamento agrícola para quem deixar de cumprir critérios ambientais.
“A grande maioria das fazendas que foram abertas no Mato Grosso para a agricultura e a pecuária não estão com sua documentação ambiental em dia. Não vai ser possível cumprir isso em tão pouco tempo”, frisou.
Segundo o governador, “se não houver crédito para irrigar as atividades econômicas, agrícolas e pecuárias, haverá de fato uma quebradeira” no Mato Grosso.
A contraproposta de Maggi é ampliar o prazo, não por meses, mas até em dois anos, para que os governos estaduais possam assegurar que produtores rurais estejam aptos a cumprir critérios ambientais.
“Em um ano ou dois os governos estaduais precisariam se adequar a esse novo momento. Não somos contra o licenciamento de propriedades, é uma exigência da lei, mas não teremos tempo para fazer isso”.
Expectativa sobre Minc
A despeito das críticas, Maggi se diz esperançoso de que o novo ministro irá impor maior velocidade ao processo de concessões de licenças ambientais.
“No antigo ministério, tínhamos uma demora muito grande nos licenciamentos ambientais. O novo ministro, pelo que entendi e conheço dele, vai fazer algumas mudanças nesse sentido. Há quatro anos trabalhamos para fazer o licenciamento ambiental de uma rodovia e não conseguimos”, afirmou, em menção à BR-158, do Estado de Mato Grosso.
O governador quer o asfaltamento da estrada, mas afirma que a suposta falta de objetividade na concessão de licenças tornaram o processo excessivamente moroso.
“O que é necessário para se licenciar uma rodovia? Isso e aquilo. Muito bem, se fez bem feito, ganha-se a licença. Se não, a licença não é dada. É esse o procedimento que esperamos daqui para a frente”.
Visita a Washington
Blairo Maggi participará de dois eventos em Washington nesta terça-feira.
Pela manhã, o governador discursará no evento Global Katoomba Meeting, que reunirá titulares de pastas ambientais de diferentes países, bem como empresários de diversos setores.
O tema do pronunciamento de Maggi irá distoar da imagem que muitos associam a ele e às suas posturas em relação ao meio ambiente. Maggi discursará durante 45 minutos sobre os créditos de carbono e seus benefícios.
Na parte da tarde, ele participa de outro evento, na sede do instituto de pesquisas políticas Woodrow Wilson Center.